sábado, 17 de setembro de 2016

Conto erótico - Mercedes

Mercedes









Tomei uma taça de vinho bem gelado, caminhei lentamente em direção a maquina de escrever, e comecei a debulhar no teclado aquele momento (único). Ela não saía de minha mente, e era difícil não lembrar, era difícil esquecê-la. E para captar, aquele olhar, meio desconfiada, um tanto tímida e obscena, pouco vulgar, era preciso colocar no papel tudo que ela transmitia a mim pelas circunstâncias obtidas, quando eu a via em meu apartamento, ou mesmo quando ela não estava.
Vários momentos inéditos que passamos juntos. Momentos divertidos e prazerosos que valera o resto da nossa sentença de meros aventureiros e apaixonados pela vida. Qual era a nossa sentença? A de viver sem reparar os danos que o tempo nos faz.
O nome dela era Mercedes, uma bela argentina de mãe argentina e pai brasileiro; ela tinha lábios delgados, e que com o efeito do batom, fazia com que os lábios adquirissem uma camada de pele a mais, e tornassem mais grossos; de cabelo grande, liso e castanho, tua altura era média, chegava aproximadamente 1, 73; as maças do teu rosto mostravam o perfil diagonal de uma mulher entre seus vinte e seis ou vinte e sete anos; uma mulher determinada, autêntica, objetiva. Mercedes era de uma inteligência rápida e astuta, de personalidade e perfil psicológico tão estruturado.
Além dessas qualidades, tantas outras que percebi após, e óbvio que ela também tinha seus defeitos. Mercedes demonstrava fraqueza para o álcool. Bebia muito, embora raras vezes, ficasse bêbeda. Dizia ela: “Quero esquecer as amarguras, as frustrações, os amores do passado, por isso que bebo tanto.”
A gente se conheceu em um bar. Ela estava sentada no canto da mesa, de vestido branco e bordado azul, bebendo teu uísque. Ela não estava de porre, mas estava de TPM, como ela mesma me disse algum tempo depois. Pois teu olhar não mentia, todavia, me dizia tudo, mesmo quando a boca não falava.  Fui até o barman e pedi uma dose de campari.
Enquanto serviam-me, virei e olhei aquela mulher ali sentada, aparentemente solteira. Ela não olhou pra mim quando eu estava olhando pra ela. Viu que desviei o olhar para tomar meu campari e me olhou de relance, com aquele olhar penetrante, e retornou ao teu copo de uísque, e bebeu de uma vez só o restante que sobrara no copo. Levantou-se, foi ao toalete. Quando saiu, se direcionou ao balcão e retirara a carteira da bolsa para pagar a conta. Estava ali parada do meu lado, nossos corpos formando duas linhas paralelas que poderiam em algum momento, se convergir ou não. Não me hesitei a virar, e logo disse ao cobrador:

- Pode deixar! É tudo por minha conta. Pagarei o uísque!

E retirei da minha carteira do bolso traseiro, uma nota de cem reais, e entreguei ao caixa. Ela me olhara de um jeito incompreendida com a situação que ali se encontrava. Mirava-me com um olhar perscrutador, e depois olhava pro caixa. O caixa que não tinha nada a ver com a historia pegou a nota e depositou junto com os outros dinheiros dentro da gaveta, mentalizando os cálculos para o troco, que seria uma ninharia, visto que a crise financeira estava ainda a se equilibrar em nosso país. As bolsas de valores uma hora aumentavam, outra hora diminuía. Mercedes não pensou mais de doze segundos, e me disse surpreendida, olhando diretamente em meus olhos:

- Moço, não precisa se incomodar a pagar minha conta. Desde já, lhe agradeço por esta gentileza, mas não precisa...

Não a deixei completar a frase, e disse-a:

- Não é incômodo nenhum. Saiba disso... e será uma honra fazer esta gentileza.

- Pois se é assim, não irei me opor, senão irei lhe constranger. Aceito. Gracias!

- Faz bem então...

- Mercedes...es mi nombre!

Confesso meu caro leitor, que havia me simpatizado com aquele sotaque castelhano misturado com muito de brasileira que havia nela. Não estou lhe julgando no ato de analisar os pormenores, mas eu não queria levá-la pra cama logo no primeiro dia, mal nos conhecíamos. Já sentia o cheiro peculiar de tua vagina, que só os olfatos bem refinados poderiam perceber. Menstruada? Não. Ela não estava menstruada no dia em que a conheci, nem no dia que fizemos amor pela primeira vez.
Dizem as línguas dos antigos que toda mulher, deve ser uma puta na cama para teu homem. Sabe de uma coisa, não acredito tanto nisso. Estava afim dela “sim”, isso até ela podia notar. Mas queria aprofundar na vida dela, saber realmente quem era aquela esbelta mulher. Perguntei:

- Aceitas uma carona?

- Não é preciso....

- Está bem! Até mais Mercedes... foi um imenso prazer conhecê-la!

- Igualmente... qual é o teu nome?

- Alguns amigos brincam comigo me apelidando de Sigmund Freud, mas me chamo Charles Mann! Me chame de Charles.

- Prazer, Charles!

Mercedes pensou por um instante, e antes que eu cruzar-se a linha do limiar da porta de saída do bar, ela veio até mim e mudou de opinião:

- Aceitarei! Será uma boa pra mim, porque minha casa... por acaso você pegará a Avenida Afonso Pena?

- Sim! Passarei por lá.

Na estrada foi quando nos conhecemos profundamente. Ela me perguntou de um jeito indisplicentemente:

- Charles, você trabalha? Não digo pelos óculos, pois você tem cara de uma pessoa culta, culturalizado; de alguém que exerce alguma profissão importante.

- Sim! Grato de tua parte! Eu sou um escritor, e trabalho como redator em um jornal daqui da cidade.

- Que esplêndido! Maravilhada com tua profissão que exerce. Gosto muito de literatura, e me amarro em poemas, romances, crônicas, contos. Além de gostar de assistir peças de teatro! Estou lendo “Madame Bovary” de Gustave Flaubert. Está lendo algum livro?

- Sim! “A Montanha Mágica”. Fico feliz por saber dos teus gostos literários! Exerce alguma profissão Mercedes?

- Sim! Sou fotógrafa! Viajo a muitos lugares, a várias regiões deste país, e para outros países, grandes capitais como Acapulco, Barcelona Lisboa, Paris, para fotografar paisagens da natureza, cenários da vida, do cotidiano! E isso me faz mais viva, e me fortalece a cada “click” que eu dou na máquina.

- Fotografar é mesmo registrar o que os nossos olhos não veem, como naquele exato momento, no bater das asas de um beija-flor ou um beijo cinematográfico!

 - Que romântico ouvir isso! E a paisagem registrada, pode ser eterna para quem ainda não sabe o valor da felicidade.

Mercedes mudando de assunto interligou o teu pensamento:

- Foi muito bom lhe conhecer, Charles! Coincidência ou não, você estava ali, naquele momento que eu estava me sentindo tão sozinha, e você me acompanhou em um “drink”. Chegamos! Obrigada pela carona.

- Mercedes, antes que você abra a porta do carro, e talvez nunca mais eu lhe veja, posso lhe telefonar? Para marcarmos de ir ao Teatro, depois do teatro, sair para jantarmos no restaurante?

- O telefone melhor não! Mas podemos marcar sim! Você sabe aonde me encontrar!

- Então, sábado à noite! Sábado às 19:00 terá a peça Otelo de Shakespeare!

Mercedes sorriu num sorriso um tanto sincero, e proferiu mudando o tom de voz:

- “Ser ou não ser, eis a questão!” Combinado então Charles!

Quando Mercedes abriu a porta do carro, foi como se a linha do tempo encurtasse, as horas passassem rápido, os minutos voassem, e os segundos pulassem da janela. O tempo voou como pássaro sem destino, mas com hora marcada e tudo. A semana passou, e o sábado chegou. Fui ao encontro de Mercedes no lugar que combinamos. Ela estava me esperando sem ao menos ter colocado na boca uma gota de uísque.

Assistimos Otelo, e vocês sabem muito bem qual rumo à peça se encaminha. Logo após, saímos para jantar, em um restaurante todo enfeitado de quadros de pintura e discos de vinil espalhados na parede, com uma boa música acompanhando o cenário. Pedimos o mesmo prato – arroz com estrogonofe, que no canto do prato tinha salada diversificada e purê de batata.  Pedimos a mesma bebida: vinho!

- Me conte mais sobre você, Charles! – Perguntou Mercedes que acabara de tomar um gole do vinho e que pelo sinal do rosto, havia aprovado o vinho.

- Além de escritor, sou músico, toco violão nas horas vagas quando não estou a escrever. Gosto de música clássica... Pavarotti,.... Amadeus...

- Mozart, Bach, Chopin, Schubert!? – Expusera Mercedes.

- Sim! Todos eles! E já ia me esquecendo: toco piano.

- Será uma honra vê-lo tocar!

- E também será um honra pra mim ver teu álbum de fotos que tu tiras da paisagem.

- Hei de mostrar a ti! E quero que algum dia tires uma foto minha.

- Olhe lá! Não sou perfeito para fotografar, mas tentarei não errar.

Lembro disso perfeitamente! Lembro daquela foto que parece uma pintura que tirei de Mercedes lendo refletidamente na cadeira, uma crônica que escrevi no jornal. Gosto desta foto e guardo-a carinhosamente. Quando bate a saudade, pego esta foto e relembro aquele momento.

Passaram semanas e nos tornamos mais íntimos. Fala-se do beijo? Ainda não. E não era o momento certo. No decorrer do passar das semanas, fomos ao cinema; no zoológico; ao parque, e rimos das nossas bobagens, das coisas sérias da vida. Andamos na roda gigante, e foi ali que aconteceu o primeiro beijo de tantos outros. Justamente na terceira semana. Foi um beijo de início raso, mas que no final ultrapassou a superfície. Apareceram as duas línguas e conectadas, começaram a se lamberem dentro das bocas. E na décima semana, fizemos amor...

Primeiramente quando fomos pra cama, eu comecei fazendo carinho no rosto de Mercedes, no cabelo, e em suas extensões. Depois, beijava teus lábios frios, dengosos, mas ao mesmo tempo, firmes. Olhávamo-nos como dois lobos incandescidos de enorme desejo. Minutos se passavam, e Mercedes abria as pernas numa decisão já tomada: ela queria ser amada (verdadeiramente).

Entre contrações prazerosas do teu corpo, eu alisava levemente com o dedo o clitóris e a vagina de Mercedes, de lá pra cá. Depois, sugava aquela flor carnuda, chupava-a, e ela delirava, gemia:

- Amor,................... amor................. Isso... me lambe!

E eu a lambia... não estávamos ansiosos. Estávamos convictos que aquela noite seria a mais perfeita de nossas vidas. E havia prometido a ela que escreveria algo especial para aquela noite. Mercedes me pedia com aquele olhar faminto:

- Charles,  enfie teu pau em minha boceta! -  Meu pênis já estava ereto e num parágrafo intenso tudo se resumiria, como se aquela noite valesse por dez anos tidos:

Eu a penetrava. Mercedes apertava o forro da cama gemendo: “Aiiiiiiiiii!!!! Uiiiii...... que gostoso!!” Naquela circunstância, percebi o valor da linguagem do sexo. Sendo assim, aumentava a velocidade, meu pênis ia lá no fundo e voltava sem retirá-lo de dentro; eu acompanhava a respiração ofegante de mim e de Mercedes. Aquela união sagrada do pênis entrando, o espasmo brusco entre as pernas, o tremer das coxas no passar dos minutos. Sentia que iríamos gozar no mesmo instante. As pernas de Mercedes estavam se fechando, e ela dizia no dorso do meu ouvido: “Eu vou gozar!”. Levantei Mercedes, e sem retirar o pênis da vagina, coloquei em cima de mim. Mercedes rebolava por cima, e eu a abraçava forte, teus fartos seios em meu rosto. Chupava os teus seios, na pausa de quando nos olhávamos dentro dos olhos. Agora, o esperma subia. Aquele branco líquido pastoso jorrava dentro de Mercedes, lambrecava as bordas dos lábios internos de sua boceta. Peles que se estremeciam de excitação. Não era só gozarmos juntos, era o momento também de dizermos para o outro, tudo que estávamos a sentir. E Mercedes banhada de suor, declarava: “Esta noite que tivemos foi inesquecível. A melhor noite que já passei! Charles, você foi perfeito!” Mercedes tinha os olhos iluminados. A gota do suor amargo de Mercedes caía em meu rosto. O gozo dela molhou até o lençol. E eu dizia: “Você é especial...”

Aproveitamos ao máximo a presença um do outro. Tivemos brigas como todos os casais têm. Portas que se batiam, mas depois voltávamos, reconciliávamos. Mercedes tinha que partir. O trabalho de fotógrafa exigia viagens. Mercedes foi embora ao início da primavera, do mês de setembro.  Ela me disse:

-Nunca irei te esquecer Charles! E eu respondi:

- Também nunca irei lhe esquecer Mercedes!

- Voltarei em breve... talvez em alguma primavera do mês de setembro!

- A esperarei!

E foi assim, que nos despedimos com um beijo curto, porém, eterno e longo, dentro do coração.


(Carlos André)