sábado, 23 de novembro de 2013

Conto - O Eu

                                                                  O Eu



-Não é preciso esforço sentimental para viver uma realidade como aquela.
-Eu, porém, já não tenho tantas perspectivas quanto a isso.
-Tu, pareces que já sabes?
-Eu, do quê?
-Daquela outra realidade que não seja essa.
-Não sei de outra realidade que não seja essa.
-Por que estás rindo?
-Rindo? Acredito que é felicidade!
-Acreditar não é a mesma ideia de convicção?
-Sim. Foi o que eu quis dizer.
-Tu ama-a?
-Sim, com todo o meu coração possível.
-Neste momento teus lábios crisparam.
-É porque estou ansioso, quero dizer... feliz!
-Tu estás feliz ou ainda tem a ideia indefinida de estar feliz?
-Estou feliz por completo. Ou seja, completamente.
-Pare de ser tão detalhista!
-Eu não estou sendo. Simplesmente estou ensaiando.
-Agora tu pareces um bobo dizendo isso.
-Eu sou um bobo para a humanidade?
-Não. Para si mesmo.
-E quanto a isso?
-Deixe do jeito que está.
-Mas vão pensar coisas, e tu sabes que as pessoas de hoje pensam coisas!
-Pelo jeito agora estás triste.
-Moderadamente sim.
-Estás rindo? Porventura, queiras que eu lhe trouxesse algo para comer?
-Sim, estou com muita fome.

                Disse ele de si para si. Pois pensava. Assim, ele comeu a eternidade de uma forma brutalmente. Não quis nenhum pouco de solicitação, ou aderência ao fato.

                                     (Autor: Carlos André)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Poema - Expressões Rasas

Expressões Rasas

O cabelo, a roupa, o cachecol; batom expressivo dos lábios
A sensação que se sente quando se olha no espelho!
São tantas coisas diferentes
Tantas coisas diferentes que se parecem o mesmo.
Contudo parece até irônico dizer, que rock é funk
Que sertanejo é MPB.
É contraditório que amor seja somente orgasmo!
No amor o coração bate mais forte e cria asas de anjo!
Acontece que o mundo não para para que consertemo-lo
Pode ser que estejas rindo agora.
Saibas que existem intervalos cruéis do riso: a insegurança de estar rindo!
O motivo de estar rindo!
Pois rir sem querer, é quase um fracasso satisfatório do medo.

Não quero que fiques triste por algum motivo que seja.
CLARO, haverá momentos que não dar pra entender
Entre o que é banal e sentimental.
Tantos sonhos diferentes, que todos parecem serem iguais
Mas isso é uma leve impressão.
Aliás, capazes somos de quase tudo, e isso é a tal da LIBERDADE!!

(Autor: Carlos André)

domingo, 10 de novembro de 2013

Crônica - A Existência



                              A Existência


            Não me sinto mais próximo, quanto mais feliz quem sabe. Sinto-me prestes a ser alguém. Não que eu não tenha sido alguém durante toda minha vida. Mas me sinto prestes de ser alguém, especialmente alguém, definitivamente alguém, completamente capaz de amar. Não que eu não tenha amado durante toda minha vida. Mas me sinto prestes de ser amado, em detalhes!
          Estou preparado para as surpresas que ainda virão. O espetáculo que começa e acaba; talvez, não tenha fim! Acredito que eu sou um excelente organizador: seleciono os principais pensamentos do dia, escolho o qual me cai bem.
          Possivelmente me sinto nas melhores intenções. Devidamente cuido da minha saúde, porque sinto curiosamente que devo me importar a cada fio do meu cabelo. Não fumo, porém bebo: suspeita que eu beba vinho, licor, champanhe: agora, não mais suspeitam. Além disso, bebo moderadamente, não fiques preocupada.
          Para as pessoas que fumam cigarro, seja qual forem à marca, comercial, normas da publicidade, não fume pela marca, comercial - fume por você mesmo –, e se isso pode lhe matar, - morra por você mesmo -; entretanto, se queres ser feliz, seja feliz por você mesmo e por todos que te amam. Teu coração lhe espera, teu pulmão espera por novos ares.
          Reparo que há diversos lábios que estão ressecados, mordidos, quase um laivo de sangue mínimo nota-se no canto da boca. Se não fossem meus olhos burlescamente burlescos, eu não notaria que no canto da boca há representações do vício ingênuo! Vários vícios, diversos vícios, vários vícios, diversos vícios, vários vícios, diversos vícios, vários vícios, diversos vícios; tomara que isso não cause em vossa excelência um cansaço mórbido, onde é preciso beber água para hidratar-se dessa terrível fase humana: o vício!
          Os flocos de neve caem em seu rosto, refresca a alma, o ideal, acontecimento de antes. Medos que a consolam e impulsionam colidir em outros medos, enfrentá-los. Sombras do amor debaixo do sorriso. O foro da cama.
          Tenho uma filha de dois meses e meio. Alegra-me assisti-la sugar com a boquinha rosada os seios, procurando o leite materno. Quando sentes minha presença, vira rapidamente o rostinho em minha direção e ri, como a dizer:

-Papai, logo eu crescerei e compreenderia este mundo!

          E retornas para os seios, pois é preciso produzir as sensações, neutralizar qualquer alarme falso, preocupação despercebida. E isso, não é um livre-arbítrio. É simplesmente a noção de poder... existir!

                                  (Autor: Carlos André)

sábado, 9 de novembro de 2013

Poema - Amor de 7 fases



Amor de 7 fases                     

Não permita a descrença no amor
O amor feito este que desejamos, nutrimos
         [de ideias que nos atraem
Igualmente. Tal a carne que nos fez um só.
Sozinho, nada por temer – o temor da morte
            do nada existencial
Pudor que não descreve a perfeição – a inventa
Mas mais dos quereres, piso ao chão
              agraciado pela ideia ininterrupta
E vamos viver. Assim viver
               (e compreender a cada custo)
Que no amor, as 7 fases prevalecem
Neste mundano mundo que fortifica.
É chegada à hora de entrelaçarmos as mãos
O mundo nos espera... enfim somos
                   sons que o vento apara
                   em suas mãos leves e opacas
Somos o todo sem um nada
Nossos corpos eternos
                   Mentes eternas.
Simplesmente eternas!

(Autor: Carlos André)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poema - Uma Canção de Amor



Uma Canção de Amor

Moras tão perto do meu coração
Que às vezes sinto-te tão longe
Internamente externo
Aqui, bem mais perto de mim.

Moras tão perto da minha consciência instintiva
Que hoje nem tive coragem de me entender
Por si só, metade adorável, doentia
Aquiesce do teu prazer!

Moras tão perto que enterneço em só pensar...

A outra metade da vida é sensação
E a outra, é vivida 
Metade por metade, afeto e digressão.

Moras tão longe de me encontrar sabendo
Que já me encontrou
Neste peito em chamas, ardente
Loucamente feneço-me.

Seria cruel me repetir das várias vezes
Pois aqui estamos...
E, portanto,
          deduzo-me em dialetos
Traduzo-me nas entrelinhas.

(Autor: Carlos André)

Crônica - Crônica Moderna




Crônica Moderna







      Inevitável! Todas as nossas probabilidades são inevitáveis. Certa vez, dizia o senhor Linius:

-Tua vida ainda terá surpresas!!!
-Quais hão de serem essas surpresas?
-Não sei. Tu a de retornar?
-Hei de pensar no assunto.

        Confesso ao leitor que inevitavelmente a de notar na crônica suas devidas tensões de enredo; cartas espalhadas em cima da mesa; o toalete e seus batons. Tua boca misteriosa que dita à iminência da crônica moderna. Sei! Que ela deixara a porta do apartamento escancarado, marcas de saudades frias e entediadas no cobertor.

-Por que não disse a ela?
-Dizer o quê?
-Você sabe o quê.
-Talvez não adiantasse.
-Adiantaria sim! Não espere que o mundo fale por você.
-Por que diz isso? O senhor sabe que eu não devo retornar.
-Não! Tu não sabes de quase nada, doutor Friedrich.
-E o que eu devo saber de tão importante senhor Linius? Diga-me.
-Quero que retornes. Não é um pedido que lhe peço. São seus inevitáveis que pedem a ti que retorne.
-Não lhe compreendo senhor Linius!
-Tu me compreenderás quando fores retornar.

        Esta não é uma história fictícia. É uma história de inevitáveis. Se o leitor não me compreende de imediato, o perdoarei por não me compreender de imediato. Porque não compreendi de imediato os inevitáveis, e nem o motivo do retorno ao apartamento. O senhor Linius foi meu professor de literatura no Liceu. Agora tinha compreendido de ele ter uma literatura imediata: “são os inevitáveis da vida” – dizia ele.

        Tive que ir de ônibus para chegar ao apartamento. Três ônibus de imediato. “Lembre-se meu jovem, são os inevitáveis que a vida nos reserva”, relembrava os dizeres do professor Linius. Até aqui, poderia eu entender o que seria os “inevitáveis da vida”. Um pensamento em vão, esquecido no ponto de ônibus, de fato, aqueles três ônibus que peguei, não seriam inevitáveis, visto que, de imediato, eu poderia ter ido de metrô ou táxi. “O inevitável é aquilo que nos consola”, repetiria esta frase no primeiro ônibus, pensaria que o professor Linius estivesse ambíguo ao dizer à frase que eu repetiria em algumas ocasiões da vida.

        Veja que no primeiro ônibus percebi que do meu lado, havia uma mulher que amamentava teu bebê que a pouco chorava, e isso, nos consola, e consola o bebê ainda mais; bebê que sugava levemente o leite quente materno – êxtase nas glândulas mamárias. E isso, consolava a mãe ainda mais. Evitável para o bebê não chorar. Inevitável seria a sensação adquirida no primeiro sugar.

        No segundo ônibus, não acontecera nada de inevitável. Porque sentado ao meu lado, havia um senhor de imediatos 60 anos, que lia refletidamente o jornal que comprara na banca neste segundo ponto de ônibus. A manchete que o intrigava estava escrito: “Morre em enchente, menino de 14 anos”. Dúvidas quanto a essa questão. Poderia ser evitável. É evitável! Não precisa de ênfase pra ser evitável. Porém, a morte do garoto não nos consola. Era inevitável a justiça.


        O terceiro ônibus revelava um mistério. Não havia evitáveis, ou inevitáveis no terceiro ônibus. O ônibus se encontrava vazio, só eu de passageiro, e o motorista não imaginaria o que pudesse ter acontecido de imediato. Aquilo poderia ser um niilismo. O dilema: o niilismo poderia ser evitável, ou seriam cartas do baralho espalhadas em cima da mesa?

         Enfim, chego ao apartamento. O porteiro não soubera onde a Letícia poderia estar. Talvez na casa dos pais. Caminhei diretamente ao nosso quarto, o professor Linius poderia estar certo, a carta estaria na gaveta? E estava. Intacta inevitavelmente. Sem nenhuma palavra distorcida. O segredo: a Letícia estava grávida. Esperando meu filho, o nosso filho! Este era o segredo para que eu retornasse. De imediato, vi a imagem do bebê do primeiro ônibus que chorava na procura do leite sagrado. Aquele bebê em poucos anos estaria aprendendo a andar. Seus primeiros passos valiosos. Sim! Queria dizer a Letícia que eu a amo muito. Era isso que eu devia ter dito quando discutimos sem justificativa.

        Inevitavelmente, fui à procura dela. Com passos de um ser preciso, resoluto no que vai fazer, com todos os seus imediatos. Passos de um ser inevitável. E não era necessário ter três condições imediatas pra saber disso.



                                 (Autor: Carlos André)