No “Café de Flore”,
Natalie gostava de cogitar na vida, sobretudo o que acontecia no seu núcleo
familiar. Sua mãe se divorciara a pouco tempo do seu pai.
Natalie dorme muito
tarde, porque sente insônia. Natalie sente a falta do seu pai. Natalie lembra
que durante a infância, seu pai a levava para passear no Bosque, depois ao
parque de diversões com rodas GIGANTES, maçãs do amor e algodões doces. Além do
parque, em alguns finais de semana, durante a tarde, eles iam ao zoológico. À
noite iam ao cinema. Lembro que um dia, o pai de Natalie a levou no Teatro para
assistir pela primeira vez a Ópera “Carmen” de Bizet. O gosto de Natalie pelo
cinema e teatro, foi aguçado desde a infância pelo pai. Às vezes, Natalie visita sua infância. No
entanto, Natalie guarda uma mágoa profunda no coração, sem saber o motivo de
ambos terem se separado: o PAI e a MÃE. Natalie agora sabe do gosto amargo que
se tornou o algodão doce.
Quando acontece
alguma desilusão amorosa, Natalie se tranca em seu quarto e coloca na vitrola
Debussy a toda altura, dorme feito um anjo e acorda determinada. Natalie quer
descobrir o VERDADEIRO amor. Foi o que ela confessou para sua amiga Margareth. Natalie
não quer ficar com “rapazes” que não ligam a mínima para o seu universo
sentimental, os seus gostos, defeitos e virtudes. Natalie não quer se perder
dentro de corações vazios. Natalie é idealista, porém, mantem os pés no chão.
Natalie está
terminando “La Casa de Bernarda Alba”, de Federico García Lorca, e seu amigo
Michelangelo a emprestou “Crime e Castigo” de Dostoiévski. Michelangelo ama
Margareth, e eu não sei se Margareth ama Michelangelo.
Natalie sonha que sua
vida amorosa, não seja tão semelhante com a de seus pais. Natalie percebe que
naquele lugar, no “Café de Flore”, há um silêncio profundamente vazio. Um lugar
compacto, mas repleto de certezas a fim de se encontrar. Com pesar no
pensamento, Natalie chama o garçom e pede:
- Você pode me trazer
uma xícara com café?
- Sim, madame!
Passam-se alguns minutos de suspense, e o
garçom se aproxima para lhe entregar a xícara silenciada, quase autista, que
não conseguiria dialogar com sua amiga em cima da mesa. Natalie se hesita:
- Você tem o jornal
de hoje? Gostaria muito de saber quais são as notícias..
- Perdono, eu non
tenho. Acabaram, foram vendidos.
- Va bene..
Além de beber café, Natalie
gosta de passar no “Café de Flore” para ler o jornal do dia. Em certas
ocasiões, Natalie gosta de sentar ali para beber um bom vinho.. na companhia de
seu amigo que havia lhe emprestado o romance, ou na companhia da sua amiga
Margareth. Naquele dia específico, Natalie queria ficar sozinha. Natalie se
sentia como se fosse uma personagem de um romance, ou um conto de certo
contista. Na verdade, ela era: o início da mitologia. Natalie era ficcional,
mas com uma lente funda de bruta realidade. Carência paternal.
Depois daquele dia no
“Café de Flore”, Natalie percebeu que de um instante para o outro, a vida era
lenta, fria, regozijam-te, e inutilmente paralela a si. Na VERDADE, eles
mereciam somente a VERDADE dos fatos, e mais nenhuma mentira. Um dia eles irão
se reencontrar, PAI e FILHA, e colocar a conversa em dia, mesmo sendo o
resquício da última LEMBRANÇA!!
(Carlos André)