SILÊNCIO. Judith se
debatia em seu monólogo de desespero, agrupando lembranças boas e más; diálogos
das pessoas íntimas que desejavam o seu bem:
- Ele sente sua falta
K. M.
- Enquanto você está
nos Estados Unidos, que na verdade não são tão “Unidos” assim.
- Os erros do passado
a machucaram. Guerras civis, feridas expostas, impostas...
- Eu sinto muito.
- Já é carnaval –
anunciava o Id.
- E o que isso tem a
ver?
- Equilibro entre o
deus PrAzEr e a deusa RAZÃO.
- Mas o carnaval já
passou. Quarta-feira de “cinzas”.
- Fico feliz que você
o abraçou no último dia.
- Ele gosta tanto de
ti e você ainda não percebeu.
- Claro que percebi.
- Vamos ao cinema
assistir uma sessão de Ingmar Bergman e outra de Fellini?
- Hoje eu não posso,
pois tenho que terminar de ler Ulysses de
James Joyce. Mas amanhã eu tenho “tempo” e podemos ir.
- Tire umas férias e
viaje para a Itália.
- Não acredito em
vidas passadas, mas parece que perdi algo naquele país das pinturas de Leonardo
da Vinci e Michelangelo. Berço da cultura Ocidental.
- Mergulhe, e não se
esqueça de retornar a superfície.
- E a peça “O
Fantasma da Ópera”, você gostou?
- Sim, e muito.
Gostei da parte em que o fantasma, Erik, declara para Cristine Daaé todo o seu
sentimento por ela.
- E eu gosto da parte
em que suas vozes se harmonizam, diante do silêncio estrondoso da plateia. Este
é um dos motivos que eu amo ÓPERAS.
- Não quero beber da
água turva, barrenta. Saia da lama.
- Quantas VIDAS VaLe
a VIDA, Vale?
- Quero beber da água
cristalina. Na cor branca o ser mais puro. Vinho puro... desejo.
- Eu odeio todos os
seus amigos “homens”, exceto os de boa índole: com boas “influências”. E olhe
que são poucos – confessava o Superego, penetrando na carne da consciência.
- Eu já sabia que o
puro e o impuro estavam misturados no mesmo Rio Lete – alertava o Ego.
- Judith é pura –
declarava Afrodite.
- Alguns não
acreditam – dizia Februarius.
- Minha melhor amiga
se chama Esperança. E a sua?
- Florença, aquilo
que floresce. Percorremos o coração desconhecido de gôndolas. Penso em conquistar
o teu coração.
- Eu sinto dentro de
mim, o peso de um pássaro em minhas mãos.
- Dante Alighieri e
Beatrice se amaram, mesmo que a barreira do além os impediam. Isso me deixa
mais feliz e contente.
- Lerei poemas, além
de pequenos contos para a nossa filha quando ela ainda estiver em sua barriga.
Quero que ela acostume com o universo das palavras desde cedo.
- O que mais você tem
medo, Judith: me diz?
- Tenho medo de sorrir
sem está contente, ou está contente sem saber o verdadeiro significado de ser
feliz.
Lembro que Judith sentiu-se
seu corpo molhado, e a vida encharcada de perguntas dentro do Rio Lete. Judith
exclamava para as almas que se debatiam entre si:
- Acalmem-se. Eu me
vi a primeira vez do lado oposto do espelho, e me senti mais leve.
- Asas deltas de uma
borboleta gigante?
- Na verdade,
pequena.
- Gandhi no coração
de quem sente.
- Quem bebesse
daquelas águas do Rio Lete, o rio de Hades, esqueceria das vidas passadas, mas Judith
não queria beber.
- Para descobrir a
Fonte perdida, Judith volveria? Tentaria de novo, de um jeito diferente?
Ao lado, perto da voz
da RAZÃO, eu vejo a Fonte e sua PURIFICAÇÃO: diante do mundo fantástico das
palavras!!