Para quem sabe do que se passou nas “entrelinhas” no
período da terrível e sangrenta Ditadura Militar (1964-1985; 2019?, será?) a de
ter se emocionado com a peça “Bailei na Curva”, adaptação do texto de Julio
Conte, que os estudantes de Teatro do IFNMG, apresentaram esta magnífica peça
no Teatro Santa Izabel em Diamantina.
Estive lá e presenciei cada detalhe, aos críticos
leitores e telespectadores detalhistas, estudar cada ângulo da cena, os
incríveis “congelamentos” da cena, para passar para a outra cena, depois esta
cena se congelava como se fossem estátuas, muitas das vezes pertencentes de uma
história dominada pelo FASCISMO e o TOTALITARISMO PATRIARCAL.
Aquém da educação rígida demonstrada no Colégio de
Freiras, cena esta que se apercebeu desde início, de forma cômica, retratando
as explicações da CONCEPÇÃO (ato), mas lá no fundo, teve uma forte CRÍTICA aos
ensinamentos da década de 1960 em questão da sexualidade, fatoeste que no final
desta década, houve uma grande revolução em se tratando da sexualidade dos
jovens, filhos da ditadura militar, ou seja, aqueles que cresceram em forte
repressão militar sejam dentro de casa (pelo pai servindo a Marinha), ou no
DOI-CODI.
Cada história dentro da HISTÓRIA: a trajetória de sete
crianças vizinhas que cresceram, e muitas delas, principalmente os pais e
filhos mais velhos que envolveram nos protestos, sofreram repressão, tortura.
Como dizer para uma criança daquela época, o que foi a
Ditadura Militar, além de outros assuntos “delicados” em 1964, a exemplo da
revolução sexual, o movimento feminista, as lutas dos estudantis nas ruas
contra a repressão militar? Seja sincero, não invente labirintos na maioria das
vezes para a criança. Como fazer para que possamos rir hipocritamente do
TERROR, de algo muito sério? A comicidade é um prato cheio. Façam pelo menos
sorrir de verdade aquelas pessoas que foram torturadas por dentro
(psicologicamente) e por fora (fisicamente).
Das sete crianças, algumas crescerão com a consciência
política do que representou aquela repressão militar, o decreto do AI-5; pais
de esquerda que se envolveram na luta contra a ditadura; pais de direita que
apoiaram os militares. Alguns cresceram e terão grandes profissões, outros
crescerão e se envolveram em jogos perigosos da vida.
Todos os atores e atrizes foram espetaculares, cada um
em sua função de atuar, o seu modo de atuar, pois há escritores de peças
teatrais, e há aqueles e aquelas que nascerão com o DOM de ATUAR a PEÇA do
ESCRITOR DE TEATRO. Em se tratando das atuações, destaco duas: a de Paloma
Pereira e Lauanda Lopes. Já tendo visto atuações de Paloma, querida “Ipê do
Vale”, esta foi a melhor atuação que ela teve, superou
para mim os “prêmios” de melhor intérprete da noite literária do Festivale,
principalmente a de 2014. A Lauanda, confesso que foi a primeira vez que eu a
vi atuando, já tinha a visto cantando (ofício que ela faz muito bem), e se
tratando de atuar, me encantei definitivamente pela voz suave (sensível) e
FIRME, CONVICTA na fala da PERSONA(gem) vivida naquele momento. Uma magnífica
atriz.
Quem ainda não assistiu à peça, corre, não fique aí
parado, não baile na curva, pois ainda dar tempo de assistir para você sair com
sua própria reflexão da peça. Esta foi a minha reflexão, a minha análise curta,
que eu poderia ter muito bem estendido, mas eu fiquei com medo de bailar na
curva, depois de o sinal vermelho do semáforo ter fechado!!
(Carlos André)