Era 2005, um ano após o lançado, que eu assisti a este
filme, que eu considero o melhor filme cinebiográfico do rock brasileiro, e no
decorrer desta curta análise, direi o porquê: “Cazuza: O Tempo não Pára” (2004),
direção de Sandra Werneck, Walter Carvalho, na produção de Daniel Filho.
Na época que eu havia assistido eu tinha 11 anos. Já
era admirador da obra musical de Cazuza há algum tempo, principalmente o
conteúdo contido em suas letras: Clarice Lispector, Allan Ginsberg, Jack
Kerouac, entre outras referências literárias.
Agora vamos ao elenco: eu posso dizer com toda
veemência cinebiográfica, que a tríade do elenco - Daniel de Oliveira
(interpretando Cazuza), Marieta Severo (interpretando Lucinha Araújo) e
Reginaldo Faria (o João Araújo) – teve para mim na época, os papéis que mais se
destacaram no filme, e é claro, estamos falando de um filme que um dos livros
que serviram de apoio para compor o roteiro foi justamente o livro que conta a
história do núcleo familiar de Cazuza, escrito pela Lucinha em parceria com
Regina Echeverria: “Só as Mães São Felizes” (1997).
Com o passar do tempo, e assistindo o filme mais vezes
e percebendo outras nuanças, comecei a ver com outras perspectivas, papeis a
exemplo da ponte de interligação em determinadas fases da vida do
cinebiografado, o Ezequiel Neves (interpretado pelo Emílio de Mello); papeis
que revelaram grandes parcerias, e nesse quesito destaco duas: Bebel Gilberto
(interpretada pela Leandra Leal) que gravou com Cazuza e o Dé, a música “Eu
preciso dizer que te amo”, que até então, este seria o título do filme; e
Frejat (interpretado pelo Cadú Favero) que eu considero - e penso que a maioria
dos críticos da obra de Cazuza irá considerar - o maior parceiro musical de
Cazuza. São muitas músicas, mas juntos eles compuseram “Ideologia”.
Vamos à vida “íntima” de Cazuza: antes de ver o filme,
eu sabia de vários detalhes da vida exagerada e intensa vivida pelo Cazuza (o
Caju). Aquela questão: cada um vive a vida da forma que acredita ser a melhor
forma possível, e que lhe fará bem (de verdade). Tem várias atitudes e
comportamentos do Cazuza que eu não concordo, porém, eu respeito. Aquilo foi a vida
dele, está no livro, nos livros, e essa parte a cinebiografia não podia criar
eufemismos. Este é um dos motivos que eu considero a melhor cinebiografia do
rock nacional que faz jus a vida e obra de um cantor, que na época, estava
completando 14 anos de sua morte acometida pela AIDS.
No entanto, tem o outro lado da crítica: Cazuza
cresceu nas fronteiras entre o Rock e a Bossa Nova; o Blues/Jazz, junto da MPB
e o Samba, assim, um rockeiro que experimentava todos esses estilos musicais,
também tinha que ser exagerado a ponto de experimentar outras “drogas” mais
pesadas. Nesse ponto de vista, será que poderia ter sido diferente? Eu sei que
a máxima do rock é “Sexo, Drogas e Rock’n Roll”, mas o rockeiro não deixaria de
ser rockeiro, se diminuísse a velocidade da vida, mesmo que fosse tachado no
futuro de “certinho”, que substitui muito bem a expressão “careta” dos anos 80.
A vida é repleta de escolhas, e certas escolhas, poderá nos fazer mal ou não, e
Cazuza sabia muito bem o que lhe fazia mal. Porém, ele tinha idade e ideologia
de sua geração suficiente para escolher qual caminho seguir.
Há duas personagens que eu quero destacar, que chegam
a ter um curto relacionamento com Cazuza: a garota de Bauru (interpretada pela
Maria Flor) nos tempos auges do Barão Vermelho, e a Dani (interpretada pela
grande atriz Débora Falabella), que será o início do voo de Cazuza para a
carreira solo. Suponho que a Dani seja a Denise Dumont, que Cazuza chega a
escrever uma carta em 1986 endereçada a ela.
O grande motivo de este filme ter ganhado até agora
para mim, o posto de melhor filme cinebiográfico do rock brasileiro, e que eu
deixei para finalizar esta análise, é a entrega de Daniel de Oliveira ao papel
principal. Na fase antes e após a doença, Daniel se assemelha muito ao Cazuza.
Na fase final do filme, e obviamente da vida de Cazuza, Daniel chega a
emagrecer 11 quilos para que tudo saísse perfeito, fazendo justiça à vida e
obra de um dos maiores cantores do Rock Nacional: Cazuza, o poeta de uma
geração ideológica, vinda dos tempos difíceis da cruel ditadura, e agora
respirava a Redemocratização, pois o tempo não pára, ou será que parou?!!
(Carlos André)
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