As Cores do Cenário
Não consigo dormir
Por pensar um nada
Não consigo dormir
Por pensar demais
Não durmo!
Apavoro!
Busco!
Retorno!
Aonde não deveria ter parado
Relógio, inércia.
Agora não consigo esquecer-te
Facilmente!
Eu lembro!
Que penso!
A vida!
Tantas vezes!
Tantas voltas!
Tantos outros!
Cercados por muros
A guerra do outro lado
Grupos miscigenados
Danças tribais
A fome, desolação!
O governo
A petição da massa!
A farda!
Manchada de sangue inocente
Tantas voltas!
Tantos outros!
Por muito pouco
Não nos encontraram
Vivo uma verdade
Pra ser vivida
Digerida!
Bebida!
Expelida!
Sinteticamente!
-Mademoiselle, aceita uma xícara de café?
Ao inspetor da repartição
Meus sinceros votos de confiança
O crime!
O laudo!
O álibi!
O calibre!
O gatilho!
O tiro em câmera lenta!
A senhora Zilda nos espreita pela persiana
Se ela vê o que vejo
Se ela vê o que sinto
Se ela notar-se no que vestimos
Nossas causas
O que nos resultou
Princípio básico!
O estado que omite suas verdades
Despimo-nos de muitas mentiras
Orgulhosos sem nenhuma intolerância
É fácil pensar!
Difícil é pensar!
Selecionar o que pensamos
Que nunca pensamos
Que nunca existira.
Imagine que debaixo dos teus pés
Não há concreto nem abstrato
Não há nada!
Não há metáfora!
Então, me diga:
No que você estar pisando?
As TVs!
O ecologista!
O proletariado!
O economista!
O ensaísta!
O desenhista!
O assalariado!
O desempregado!
Os opressores!
A opressão!
Emissoras que distorcem a realidade
Ilusão!
A torneira do banheiro não para de pingar
Sei que não é defeito, muito menos conserto
Muitos objetos que consertamos
Não teve qualquer defeito
Porque foi só um estudo de contemplação
Da tendência de mudar algo
Que esteja errado!
No lugar errado!
Na hora errada!
Na história errada!
-Mademoiselle, se ao menos soubesse teu nome!
Se você soubesse os
motivos que lhe escrevo.
Se você soubesse dos
natais passados.
Se você soubesse que
nossa revolução,
não foi totalmente
perdida!
...Mademoiselle...
(Autor: Carlos André)