quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Ensaio sobre “La Scapigliata”

































Datada de 1508, “La Scapigliata” ou no português “Cabeça de Mulher”, tornou-se uma das obras mais perfeitas e inacabadas de Leonardo da Vinci: um desenho sobre madeira. Percebam o marrom característico.
                            
Nela podemos notar traços suaves contornando a beleza feminina. É lírico e romântico dizer, que a “La Scapigliata” é embutido de uma forte intertextualidade da época, onde se vem inserida num período no qual o movimento do Renascimento e seus ideais iluministas, provocavam as diversos artistas a se inovarem.

Isso não seria diferente com os pintores, e nem com Leonardo da Vinci, que procurava a cada obra, o alto grau de perfeição, um perfeccionista por excelência.

A meu ver, “La Scapigliata” é um esboço continuado da clássica “Mona Lisa” de 1503. A principal distinção é que na “Mona Lisa”, temos um rosto multifacetado de interpretações, tipo: a Mona Lisa está sorrindo, está triste? Diferente quando observamos “La Scapigliata” e percebemos que é um desenho com uma única direção: instigar o público a contemplar a estética de criação daquela simples obra inovadora.

(Carlos André)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O Conto das Noites Adentro


- Bem perto das Lembranças Perdidas, existia um casarão abandonado, construído no século XVIII, onde a cor cinza-esverdeada da arquitetura secular se assemelhava quando o céu se portava nublado: um cinza obscuro, que tangia a alma daqueles que ousavam imaginar o que estariam além daquelas portas e janelas fechadas. Na refração de segundos, apareceriam janelas com vidros em estilhaços. Em simples detalhes, não tão minuciosos para o leitor atento, ou aqueles a quem nos ouve, o casarão possuía dois andares e um sótão, onde a família Kiensky guardava as lembranças perdidas.
- Espere um pouco místico Vincent! Quem era a família Kiensky?
- Sim Guiomar! A família Kiensky era uma família não regrada a viver em sociedade. Somente o pai Brutos, que na maioria das vezes saía para caçar as presas mais gordas para que a mãe e as filhas, já moças, pudessem preparar para o almoço e (quem sabe) janta.
- E como eles se vestiam místico Vincent?
- Eles só vestiam preto, sem exceção; como se todos os dias para eles houvessem um apelo para fazer luto. Mas acontece que naquele verão, na noite que precipitava a adentrar os montes que circundavam aquele casarão, acontecera algo de tenebroso que marcou para sempre a família Kiensky.
- E o que de tão tenebroso havia acontecido aquele dia, místico Vincent?
- Na tarde daquele dia, a mãe Úrsula pede Brutos, dizendo-lhe: “Brutos, não teremos comida para a janta, e não mandarei o nosso filho Sulivan caçar, pois ele está ocupado no sótão arrumando e passando verniz nas lembranças perdidas. Vá você mesmo na caça.” Brutos, só confirma com a cabeça dizendo que “Sim!”, e nos seus olhos era como ele quisesse dizer: “Mulher, trarei para ti o melhor lobo.. a melhor presa que você irá comer!”.
- Místico, antes de tudo, o que são as lembranças perdidas?
- Ah, sim Guiomar! Bem lembrado! As lembranças perdidas era o baú onde a família guardava as relíquias da família e dos seus antepassados. Aproveito e lhe digo: naquele dia, as lembranças não foram totalmente perdidas.
- Sim... e por quê?
- Ao retornar da caça, Brutos, que com o braço direito ficou com as marcas das garras do lobo, traz a pressa nos ombros e estende o lobo já morto na esteira onde ainda há poucos dias, estivera estendida a última presa. Brutos, querendo contar o seu feito heroico ao filho Sulivan, corre para o sótão, mas a mãe Úrsula o repreende: “Brutos, não vá atrapalhar o menino. Daqui a pouco ele desce.” Na mesma hora, as filhas Eugênia e Lucinda descem a escada...imagine só: duas jovens de pele bem clara, naqueles vestidos pretos ajustados ao corpo. Ambas se direcionam a cozinha para ajudar a mãe Úrsula a preparar o jantar. Eugênia percebe uma cicatriz na face esquerda do lobo, mas pensa ser comum aquela cicatriz neste tipo de espécie de lobo. Eugênia até comenta com Lucinda, que a cicatriz de uma pinta em formato de uma asa, a fazia relembrar os tempos de infância. Pois bem Guiomar, o jantar foi servido à mesa a meia noite, pois o preparo daquela presa se estendeu entre grandes intervalos de horas, que tanto a mãe Úrsula e as filhas não planejavam o atraso. Pratos sobre a mesa, e Brutos foi o primeiro a provar um pedaço daquela carne bem cozida e fresca! Elogiara as filhas e sua esposa pelo tempero. Lucinda rasgou tão indelicadamente nos dentes, um pedaço da coxa posto por ela entre o garfo e a faca de mesa; Eugênia só beliscou com os dentes uma parte da pata, mas deixou no prato. Eugênia se levanta, dizendo: “Mãe, vou chamar o Sulivan para a janta. Ele deve ter terminado o trabalho.” “Sim, minha filha! Vá ao encontro do seu irmão, e diz a ele para não demorar mais a descer.” Eugênia sobe as escadas com toda pressa, e ao chegar ao segundo andar, vê que a luz do sótão não está acesa. Ao chegar ao sótão, a porta está somente puxada: Eugênia abre e não vê Sulivan, avista as janelas escancaradas, e o vento a balançar as cortinas. Eugênia desce as escadas já preparando o que iria dizer para a mãe que: “Sulivan fugiu de casa sem avisar”, ou “Alguém da cidade o raptou”. Quando Eugênia chega na cozinha, ela depara com todos no chão, se contorcendo e vomitando as partes do lobo comidas naquela mesa. No mesmo instante, a cabeça do lobo salta sobre a mesa, e grita indignado: “Vocês me comeram...comeram sem saber...que eu era o próprio Sulivan transformado em Lobo”, ao proferir as últimas frases, o lobo, ou melhor, o Sulivan finalmente morre simbolicamente em seu desgosto assistido naquela mesa. A partir daquele dia Guiomar, ninguém daquela família foi o mesmo. Eles passaram a se vestirem diferentes, e o Sol que iluminavam os grandes montes, não era o mesmo que iluminava o vilarejo das Lembranças Perdidas.

(Carlos André)