sábado, 23 de novembro de 2013

Conto - O Eu

                                                                  O Eu



-Não é preciso esforço sentimental para viver uma realidade como aquela.
-Eu, porém, já não tenho tantas perspectivas quanto a isso.
-Tu, pareces que já sabes?
-Eu, do quê?
-Daquela outra realidade que não seja essa.
-Não sei de outra realidade que não seja essa.
-Por que estás rindo?
-Rindo? Acredito que é felicidade!
-Acreditar não é a mesma ideia de convicção?
-Sim. Foi o que eu quis dizer.
-Tu ama-a?
-Sim, com todo o meu coração possível.
-Neste momento teus lábios crisparam.
-É porque estou ansioso, quero dizer... feliz!
-Tu estás feliz ou ainda tem a ideia indefinida de estar feliz?
-Estou feliz por completo. Ou seja, completamente.
-Pare de ser tão detalhista!
-Eu não estou sendo. Simplesmente estou ensaiando.
-Agora tu pareces um bobo dizendo isso.
-Eu sou um bobo para a humanidade?
-Não. Para si mesmo.
-E quanto a isso?
-Deixe do jeito que está.
-Mas vão pensar coisas, e tu sabes que as pessoas de hoje pensam coisas!
-Pelo jeito agora estás triste.
-Moderadamente sim.
-Estás rindo? Porventura, queiras que eu lhe trouxesse algo para comer?
-Sim, estou com muita fome.

                Disse ele de si para si. Pois pensava. Assim, ele comeu a eternidade de uma forma brutalmente. Não quis nenhum pouco de solicitação, ou aderência ao fato.

                                     (Autor: Carlos André)

Nenhum comentário:

Postar um comentário