sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Poema - Metrópole



Metrópole

Uma tosse no silêncio da rua
É só uma tosse no silêncio da rua
O vulto que ninguém viu
Mil fagulhas de desespero.

O estrondar do relógio da cidade
Linhas telefônicas
O padecer dos horários extras
O sono chega, estaciona
Faro de vestígio.

Prometi-lhe não mais menti
A maré que precede a ressaca
Haveria uma tosse no silêncio?
Rumores que Deus espanta
O silêncio no escuro.

Moro em um apartamento
A sacada do prédio tem formatos curvos
Desenho paisagista anos 30
Glamour do nosso século
Mãos que contornam a beleza do quadro.

Veículos dispersos na Avenida Afonso Pena
Dentro do carro o tempo rege lentamente
Já lá fora, dizem que temos pouco tempo
Em tudo aquilo que pensamos dentro do carro
O próximo destino? Aeroporto Internacional de Confins.


A pouca veracidade dos fatos não dormiram em nossa cama
No elevador há um homem com olhos pensativos
Estar vestido de fraque
Leva na mão direita um buquê de rosas vermelhas
Na outra mão leva consigo uma maleta azul escuro
Possivelmente estivera a trabalho
Supostamente passara antes na Floricultura do senhor Bartolomeu.

A porta do elevador se abre
E o homem vestido de fraque passa obstinado
Entre as pessoas e por mim
Qual segredo ele leva naquela maleta azul escuro?
Com qual intenção ele comprara ou não
O buquê de rosas vermelhas em pleno dia que o céu estava cinza?
Pensei em segui-lo para vê até onde iria
Mas ele caminhava rápido naquele dia
Voltei, e peguei o elevador para o meu apartamento.

Cheguei cansado do trabalho, teve hora extra
Minha esposa já se encontrava dormindo
O telefone tocara. Ninguém do outro lado disse nada.
Só consegui ouvi uma respiração ofegante, feminina
Não disse nenhuma palavra significativa e desligou
Mas o que me intrigava não era o telefone que tocara
Nem muito menos quem poderia ser a pessoa do outro lado
Minha atenção estava voltada para aquele homem vestido de fraque
Buquê de rosas vermelhas na mão direita
Noutra mão a maleta azul escuro. Determinado a fazer algo!
Espere, já tinha esquecido:
Ele portava entre os dedos da mão esquerda um charuto
Os mesmos dedos que seguravam a maleta seguravam o charuto
Sucessão de cenas ocorria em minha mente, feito efeito dominó
Nas paredes do meu escritório a sonoplastia do orgasmo
A vida íntima do casal no apartamento próximo ao nosso
O apagar das luzes
Silêncio no escuro.

Mal dormir aquela noite
Ainda o gosto do mistério beijava minha boca
Sem que eu querer-se, se ao menos pudesse evitar
A pessoa que me telefonara poderia ser uma mulher aflita
Ou talvez ligasse imaginando ser algum conhecido
Veio-me na lembrança da noite passada
Poderia ser essa a explicação do telefonema
Entretanto, não fazia sentido
Se for verdade, o que eu tinha com a vida íntima de um casal?
Logo liguei a cena ao telefonema com a cena do homem de fraque  
Será que a mulher que me ligara
Era amante do homem da maleta azul escuro?
O buquê de rosas vermelhas era pra ela?

O homem de fraque,
da maleta,
até o charuto,
do buquê,  tossia quando saíra apressadamente do elevador.
E quando entrava também
Era assim todo dia
Um dia trazia rosas vermelhas
Outro dia trazia margaridas
E por último, lírios do campo
Acontece que um dia ele trouxe somente a verdade para ela!
Sem maleta azul escuro
Somente a verdade vestido de fraque
Cabeça calva, rosto redondo, olhos castanhos
Tudo ocorrera tal como o destino planejou
Ele saiu do apartamento 00h43min e pegara o elevador
Levava consigo o charuto entre os dedos
Eu vi da sacada do apartamento o meu reflexo
No momento quando eu saí do prédio
Não tinha carro, e nem quis táxi naquela noite
Fui caminhando, caminhando no silêncio da rua
Tossia como de costume  
E fumava meu charuto!

(Autor: Carlos André)

Nenhum comentário:

Postar um comentário