sexta-feira, 28 de setembro de 2018

DEPOIS DA TEMPESTADE













Maktub...

Durante o período intenso de chuva, o clima naquelas redondezas amenizou-se e houve a estiagem. Tempos de colheita do vinhedo. Dos campos de trigo. Fartura de vinho e pão na mesa.

De uma simples lembrança deixada pela chuva, no chão formou-se um espelho d’água, onde os reflexos puderam ser enxergados.

Dentro dos reflexos, daqueles corpos até então, frios de amor e segredo, ocorreu um diálogo também intenso, no entanto, nada frio:

- Catarina, quando iremos nos casar?
- Ferdinan, ainda não estou preparada!
- E quando é que você estará preparada?
- Estamos juntos há pouco tempo, e sei que o casamento é importante na vida de um casal; um matrimônio sagrado, mas no momento é cedo demais para casarmos.
- Você me ama (de VERDADE)?
- Sim, Ferdinan! Eu te amo tanto, porém, esse amor não pode ser medido num casamento prematuro. Preciso tirar o meu salto alto, para sentir em que chão estou pisando, em que sociedade estou vivendo. Tire o peso dos seus sapatos também.
- Tudo bem, estou tirando... pronto!
- Me diz o que você sente quando está de pés descalços?
- Eu sinto um alívio junto do ar fresco da natureza, mesmo sem ter a comodidade e a proteção dos sapatos.
- Também é isso que eu sinto quando tiro o meu salto alto.
- Olhe Catarina: o nosso reflexo no poço d’água da chuva. Bem diferente do que estamos acostumados ao olhar pelo espelho.
- De fato, Ferdinan! E se este espelho não estiver trincado, veremos a nossa imagem perfeita projetada para o lado de fora.
- E o espelho d’água?
- Neste vemos a nossa imagem projetada com ondulações. Pois é bem provável que alguma neblina caiu neste espelho d’água. Ou quem sabe, algum ser de outro planeta pousou por um breve instante na película dessa água que um dia a pulamos, e hoje, estamos nos vendo. Momentos para o futuro.
- Catarina, e os nossos beijos e abraços, também serão lembrados no futuro?
- Bem prováveis que sim, Ferdinan! Isso se os nossos filhos forem o reflexo das lembranças não tardias do espelho d’água. 
- Catarina, eu acostumei desde a fase mais tenra, a ver o pôr-do-sol em cima dos montes.
- E é tão harmonioso senti isso de você. Agora você me entende, não é, Ferdinan? Perseverarmos.
- Sim, perseveremos. Maktub...
- Maktub!!

(Carlos André)

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