Maktub...
Durante o período
intenso de chuva, o clima naquelas redondezas amenizou-se e houve a estiagem.
Tempos de colheita do vinhedo. Dos campos de trigo. Fartura de vinho e pão na
mesa.
De uma simples lembrança
deixada pela chuva, no chão formou-se um espelho d’água, onde os reflexos
puderam ser enxergados.
Dentro dos reflexos,
daqueles corpos até então, frios de amor e segredo, ocorreu um diálogo também
intenso, no entanto, nada frio:
- Catarina, quando iremos
nos casar?
- Ferdinan, ainda não
estou preparada!
- E quando é que você
estará preparada?
- Estamos juntos há
pouco tempo, e sei que o casamento é importante na vida de um casal; um
matrimônio sagrado, mas no momento é cedo demais para casarmos.
- Você me ama (de
VERDADE)?
- Sim, Ferdinan! Eu te
amo tanto, porém, esse amor não pode ser medido num casamento prematuro.
Preciso tirar o meu salto alto, para sentir em que chão estou pisando, em que
sociedade estou vivendo. Tire o peso dos seus sapatos também.
- Tudo bem, estou
tirando... pronto!
- Me diz o que você
sente quando está de pés descalços?
- Eu sinto um alívio
junto do ar fresco da natureza, mesmo sem ter a comodidade e a proteção dos
sapatos.
- Também é isso que eu
sinto quando tiro o meu salto alto.
- Olhe Catarina: o
nosso reflexo no poço d’água da chuva. Bem diferente do que estamos acostumados
ao olhar pelo espelho.
- De fato, Ferdinan! E se
este espelho não estiver trincado, veremos a nossa imagem perfeita projetada
para o lado de fora.
- E o espelho d’água?
- Neste vemos a nossa
imagem projetada com ondulações. Pois é bem provável que alguma neblina caiu
neste espelho d’água. Ou quem sabe, algum ser de outro planeta pousou por um
breve instante na película dessa água que um dia a pulamos, e hoje, estamos nos
vendo. Momentos para o futuro.
- Catarina, e os nossos
beijos e abraços, também serão lembrados no futuro?
- Bem prováveis que
sim, Ferdinan! Isso se os nossos filhos forem o reflexo das lembranças não
tardias do espelho d’água.
- Catarina, eu
acostumei desde a fase mais tenra, a ver o pôr-do-sol em cima dos montes.
- E é tão harmonioso
senti isso de você. Agora você me entende, não é, Ferdinan? Perseverarmos.
- Sim, perseveremos.
Maktub...
- Maktub!!
(Carlos André)
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