segunda-feira, 12 de março de 2018

Melbe e sua imaginação fértil


























Melbe divertia-se dentro dos livros. Procurava naquele momento, o que havia de mais oculto nas palavras e encontrava: o rabisco do raciocínio mergulhado no extenso saber. Como se isso não bastasse, para que ela pudesse percorrer com os olhos e desvendar o labirinto.

Certo dia, depois de chegar do trabalho de bibliotecária, e após tomar um bom banho, desnudar a alma debaixo do chuveiro, Melbe, que havia pegado emprestado da biblioteca do centro da cidade, um livro de um escritor que por coincidência, era do mesmo signo de Melbe: o signo de Peixes.

Melbe, que na madrugada sentia fortes insônias, senta no sofá do seu escritório e resolve ler, ou melhor, Melbe incessantemente resolve devorar as páginas daquele livro que lhe chamara bastante atenção, tanto pela capa e pela qualidade do que vinha escrito dentro.

Dentro de Melbe havia uma batalha constante de entender cada personagem daquele livro, o modo que cada personagem via o mundo; as características psicológicas de cada personagem, visto que nenhum personagem tinha uma personalidade em comum com o outro. Para Melbe, isso tornava o romance instigante, e pensava consigo mesma durante a leitura:
- Se eu fosse esse personagem, eu não faria assim. Existe outro modo mais fácil deles se entenderem.
Caso algum leitor vier me perguntar sobre o quão é difícil o ofício do escritor, no que tange a respeito do processo de criação de cada personagem, eu responderia:

- Se eu pudesse reinventar a Melbe, talvez ela tivesse cabelo ruivo ou quem sabe azul.

Retornando a narração, Melbe em cada capítulo lido do romance, percebia que o imprevisível poderia acontecer a qualquer instante, a exemplo de um personagem coadjuvante que ninguém esperava, pudesse aparecer no decorrer dos últimos capítulos e mudar a história de vez. Coisa que talvez o personagem principal não tivesse condição de fazer, ou que não queria ter a incumbência de tanta responsabilidade da história em suas mãos.

O telefone toca na sala, e Melbe escuta, mas resolve não atender. Melbe continua dentro do livro. O telefone toca pela segunda vez, e Melbe hesita em ir atender – talvez fosse ele lhe pedindo desculpas pela última noite –, mas há alguma força literária que a impede de ir. Melbe continua a ler os capítulos finais do romance. O telefone toca pela terceira vez, mas Melbe está tão interligada com o final da história, que não escuta o chamado da secretária telefônica. Melbe está a imaginar de como seria tão lindo se ambos os personagens pudessem passear de mãos dadas num campo extenso e florido!!

(Carlos André)

Crédito na imagem: Ben Giles.

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