Melbe divertia-se dentro dos
livros. Procurava naquele momento, o que havia de mais oculto nas palavras e
encontrava: o rabisco do raciocínio mergulhado no extenso saber. Como se isso
não bastasse, para que ela pudesse percorrer com os olhos e desvendar o
labirinto.
Certo dia, depois de chegar do
trabalho de bibliotecária, e após tomar um bom banho, desnudar a alma debaixo
do chuveiro, Melbe, que havia pegado emprestado da biblioteca do centro da
cidade, um livro de um escritor que por coincidência, era do mesmo signo de
Melbe: o signo de Peixes.
Melbe, que na madrugada sentia
fortes insônias, senta no sofá do seu escritório e resolve ler, ou melhor,
Melbe incessantemente resolve devorar as páginas daquele livro que lhe chamara
bastante atenção, tanto pela capa e pela qualidade do que vinha escrito dentro.
Dentro de Melbe havia uma
batalha constante de entender cada personagem daquele livro, o modo que cada
personagem via o mundo; as características psicológicas de cada personagem,
visto que nenhum personagem tinha uma personalidade em comum com o outro. Para
Melbe, isso tornava o romance instigante, e pensava consigo mesma durante a
leitura:
- Se eu fosse esse
personagem, eu não faria assim. Existe outro modo mais fácil deles se
entenderem.
Caso algum leitor vier me
perguntar sobre o quão é difícil o ofício do escritor, no que tange a respeito
do processo de criação de cada personagem, eu responderia:
- Se eu pudesse reinventar a
Melbe, talvez ela tivesse cabelo ruivo ou quem sabe azul.
Retornando a narração, Melbe
em cada capítulo lido do romance, percebia que o imprevisível poderia acontecer
a qualquer instante, a exemplo de um personagem coadjuvante que ninguém
esperava, pudesse aparecer no decorrer dos últimos capítulos e mudar a história
de vez. Coisa que talvez o personagem principal não tivesse condição de fazer,
ou que não queria ter a incumbência de tanta responsabilidade da história em
suas mãos.
O telefone toca na sala, e
Melbe escuta, mas resolve não atender. Melbe continua dentro do livro. O
telefone toca pela segunda vez, e Melbe hesita em ir atender – talvez fosse ele
lhe pedindo desculpas pela última noite –, mas há alguma força literária que a
impede de ir. Melbe continua a ler os capítulos finais do romance. O telefone
toca pela terceira vez, mas Melbe está tão interligada com o final da história,
que não escuta o chamado da secretária telefônica. Melbe está a imaginar de
como seria tão lindo se ambos os personagens pudessem passear de mãos dadas num
campo extenso e florido!!
(Carlos André)
Crédito na imagem: Ben
Giles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário