sábado, 10 de novembro de 2018

A MULHER DE VESTIDO VERMELHO



























A mulher dos olhos com olheiras: marcas do passado, de amores banidos tentando se esconder (ou quem sabe se encontrar?); de erros fatais tentando não se encontrar na rua. Seus olhos com olheiras, o que nenhuma maquiagem excessiva os compram de volta. Pode até esconder e criar uma estética na face, mas por dentro você estará gritando (de dor...). Segurando a vela, e vendo outro casal MODERNO se beijar do seu lado. A mulher dos olhos com olheiras mora na rua “K” do bloco “M”.

Do outro lado, bem diferente da mulher dos olhos com olheiras, há uma mulher de vestido vermelho, que mora na rua "C” do bloco "A”, e agora segue obstinada o seu destino, enquanto a de olheiras no rosto, nos olhos, nos lábios secos, na boca sedenta de modernidade, fica em casa plantada no sofá. Vida que passa lá fora, com os acontecimentos incríveis de se assistir na tela da TV, ou quem sabe da janela do quarto. Às vezes o FILHO não se parece com a MÃE, e nem o “PAÍS” se parece com o FILHO (pátria mãe paternal). O pequenino acertou uma pedra na janela do banheiro da minha casa, está na hora de isso parar. Não queria lembrar, mas os pais da mulher com olheiras se separaram quando ela era pequena. Ela sofreu muito com isso. Tudo se reflete: dentro da família (ou para alguns, alguma coisa é camuflada). Embora, tem gente que tem olheiras nos olhos, porque tem insônia na madrugada, e é preciso de um bom livro e uma xícara de chá para que o sono venha. Mudanças são precisas, conquiste aquele reino. Lá fora, o chão está com folhas do outono, mas não é outono.

Enquanto a mulher de vestido vermelho caminhava pensativa na rua, num prédio do lado, do apartamento 118, havia um casal prestes a terminar, discutindo:

- Você mentiu pra mim!
- Eu sei, mas foi preciso!
- Eu te odeio! Saia daqui... não quero mais ver sua cara!
- Você com esse charminho fraco, só que chamar minha atenção! Quando você está se sentindo bem sozinha, você vai lá e desponta nos comentários do povo do bairro, só para me vê irritado.
- Tudo mentira isso que você está dizendo! Saia logo daqui.
- Tudo bem, irei. Você mente porque tem medo de ser SOZINHA. Espero que fique bem com seus amiguinhos.

Num outro apartamento ao lado do 118, o apartamento 119, um grande amigo confiável aconselhava sua amiga de infância:

- Não finja está bem. Não finja ficar com alguém só por ficar!

A mulher de vestido vermelho que passa na rua; no escritório; na avenida; na esquina, nos pontos de ônibus, no bar, no restaurante, agora retorna para a mesma rua que foi envelhecida por dez anos, e pergunta um senhor aproximadamente com sessenta anos, sentado num banco lendo as previsões meteorológicas no Jornal da Manhã, antes de chover:

- Por acaso o senhor você sabe me informar onde fica a Estação do Metrô?
- Vire essa esquina à esquerda, e siga direto. Você verá o letreiro "PRÓXIMO EMBARQUE".
- E que horas o metrô passa?
- Às 19h, jovem mademoiselle. Leve este meu guarda-chuva, pois irá chover.
- Grato, mas e o senhor?
- Estou com idade avançada, e acostumei com a chuva. Preciso dela.
- Tudo bem, agradeço-lhe de coração, senhor! Até... passe bem!
- Até, jovem mulher.

Agora, nesse exato momento, há um homem de terno preto e maleta azul, observando a mulher de vestido vermelho passando na rua. Olfato aguçado: ele sente o perfume da flor. Audição milimetricamente audível: ele ouve o barulho do seu salto alto ao pisar no concreto. Sistema nervoso ajustado: ele sente a verdade dentro e ardendo nela, quando escuta e sente o cheiro do coração a bater.

No letreiro da Fábrica, do centro da Metrópole, estava escrito: “Contratamos mão de obra barata”. A vida não era fácil, e a mulher de vestido vermelho sabia muito bem do que queria. Ela não queria mais ser escravizada no trabalhado mal pagado na secretaria do escritório, e nem trabalhar naquela Fábrica feudal no centro da Metrópole. Mas eu havia me esquecido, que a mulher de olheiras ao redor dos olhos (brutalmente cansada do árduo trabalho; do marido que não a compreendia), trabalhava justamente naquela Fábrica de letreiro impressionante, e o chefe máximo fingindo ser ABOLICIONISTA. O aniversário da mulher de olheiras nos olhos era em Novembro, e o chefe não havia pagado seu salário.

Além do homem de terno preto e maleta azul – acredito que na maleta havia contratos sociais e uma rosa de pétalas pálidas -, eu também vi a mulher de vestido vermelho passar pela minha rua. Sei que o ano está terminando, mas a partir dali percebi que nem tudo está perdido: o AMOR também percorre pelas ruas!!

(Carlos André)

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