quinta-feira, 30 de março de 2017

Crônica - Judith

Crônica

Judith



















Seria mais fácil dizer que a encontrei submergida em pensamentos obscuros, mas, tornaria pouco representável a noção do tempo em que se passou desde que a vi deitada no banco do bosque a refletir.

Além do nome, ela tinha gerúndio, particípio e endereço; embora, eu não queira dizer onde ela residia. Só lhes deixo uma pista: ela morava em um reino, diferente de todos os reinos que havia. Aos que leem com atenção, prefiro manter a discrição desta crônica.

Naquela tarde quando passei montado em meu cavalo, a levar na mão um cesto que exalava o cheiro ao longe, meu estado de espírito era de grande júbilo. Cumprimentei-a:

- Boa tarde, querida donzela!

Ela retribuiu um tanto séria, sem sorrir, indagando:

- Boa tarde, meu querido cavaleiro! Aonde vás tão livre e despreocupado, sem ter algum pensamento que o impeça?

- Vou levar esta cesta de flores para ornamentar a minha casa!

Ela pensara um momento, e sentira na alma, o que deveras devias sentir, e disse esboçando início de contentamento:

- Amo flores...

Não pensei tanto, e tirei do cesto, algumas flores especiais naquele momento.

- Te ofereço anis, lírios, amores-perfeitos, prímulas!

E ao receber as flores, teu rosto mudara de fisionomia, ela sorriu num gesto descompassado:

- Obrigado querido cavaleiro!

- Sinto feliz por ter sorrido! Espero que quando a encontrares de novo, estejas assim, radiante! Até breve...

- Até!

E assim, fui eu montado em meu cavalo, que cansado estavas, de tantas léguas de jornada que fizemos. Mas até hoje eu não me esqueço, e nem devo esquecer, daquele rosto que me fez acreditar que o caminho pode ser traçado diferente; e eu a fiz feliz pelas flores que lhe dei. Bem parece um conto sucinto, mas é uma crônica, de fato. Pois o tempo mudou, e com a chegada do outono, sempre quando passo naquele bosque, tenho a impressão dela estar lá, pensando na vida: a refletir.


(Carlos André)

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