Crônica
Judith
Seria mais fácil dizer que a
encontrei submergida em pensamentos obscuros, mas, tornaria pouco representável
a noção do tempo em que se passou desde que a vi deitada no banco do bosque a
refletir.
Além do nome, ela tinha
gerúndio, particípio e endereço; embora, eu não queira dizer onde ela residia. Só
lhes deixo uma pista: ela morava em um reino, diferente de todos os reinos que havia.
Aos que leem com atenção, prefiro manter a discrição desta crônica.
Naquela tarde quando passei
montado em meu cavalo, a levar na mão um cesto que exalava o cheiro ao longe, meu
estado de espírito era de grande júbilo. Cumprimentei-a:
- Boa tarde, querida
donzela!
Ela retribuiu um tanto
séria, sem sorrir, indagando:
- Boa tarde, meu querido
cavaleiro! Aonde vás tão livre e despreocupado, sem ter algum pensamento que o
impeça?
- Vou levar esta cesta de
flores para ornamentar a minha casa!
Ela pensara um momento, e
sentira na alma, o que deveras devias sentir, e disse esboçando início de
contentamento:
- Amo flores...
Não pensei tanto, e tirei do
cesto, algumas flores especiais naquele momento.
- Te ofereço anis, lírios,
amores-perfeitos, prímulas!
E ao receber as flores, teu
rosto mudara de fisionomia, ela sorriu num gesto descompassado:
- Obrigado querido
cavaleiro!
- Sinto feliz por ter
sorrido! Espero que quando a encontrares de novo, estejas assim, radiante! Até
breve...
- Até!
E assim, fui eu montado em
meu cavalo, que cansado estavas, de tantas léguas de jornada que fizemos. Mas
até hoje eu não me esqueço, e nem devo esquecer, daquele rosto que me fez
acreditar que o caminho pode ser traçado diferente; e eu a fiz feliz pelas
flores que lhe dei. Bem parece um conto sucinto, mas é uma crônica, de fato.
Pois o tempo mudou, e com a chegada do outono, sempre quando passo naquele
bosque, tenho a impressão dela estar lá, pensando na vida: a refletir.
(Carlos André)
Nenhum comentário:
Postar um comentário