sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crônica - A teoria da ex-mentecapta



                                       A teoria da ex-mentecapta





           Não havia nenhum complexo de Édipo. Tua mente estava brutalizada, na dor, que não pudera fazer nada que a salvasse. Fugiria? Negaria constantemente que suas forças eram medidas a tal ponto, de esbarrarem em seu passado? A sua esposa Yane, sofria terríveis ataques epiléticos; o Doutor Muzi viera - fizesse compreender o motivo desses ataques, as causas que impulsionaram adentrar - o corpo magro, tanto ao desacordo do alinhamento facial, lábios pálidos, ressecados, conforme a superfície da alma sofrendo, olhos moribundos esbugalhados para as janelas; coisa parecida a quem pretende tomar a decisão, quebrar por instante regra do sofrimento.

          Desde então, necessitava do último desejo. Sobretudo, quis desprezar a torpe ideia da morte. Mancha de pensamento. Sim! (Bem notara) o teu marido Inovít observando-a, estagnado, com os dedos da mão esquerda deslizando no queixo, tal como pensasse em algo que nutri severamente as esperanças.

          O Doutor Muzi disse que Yane deveria sair de Zurique, respirar ares do campo, visto que na capital, a vida de Yane é uma mortalha de seda em linho branco: as convulsões: a escassez da memória, a infertilidade dos sonhos, que naquele habitat não restara capacidade mínima das felicidades outrora. Inovít amava-a! Homem amabilíssimo. Yane perfurando a realidade pensava consigo: “o que será do meu Inovít caso eu...", neste momento ela era tomada por uma crise de tosse. Não conseguira completar o pensamento exposto, logo, crescia por dentro da mente, a raiz do eufemismo, da verdade maldita, do escarro impregnado nos pulmões, e a tosse que proliferou nascera da consciência de não querer pensar na morte, neutralizar a morte numa parte do cérebro que os neurônios não poderiam resgatar. A morte estaria presa na parte cinzenta da mente, e não teria como fugir, mesmo que a consciência porventura a ajudasse, espalhando pelo corpo, e, finalmente no coração.

          Seria possível neutralizar a morte, não deixá-la escapar, independentemente se a consciência sentisse pena dela? Por mais inacreditável que pudesse transparecer, Yane tinha idealizado o plano seguinte:



*Primeira etapa: o hospedeiro, que neste caso seria Yane, teria que matar premeditadamente em seu subconsciente a morte, definida como um parasita.



*Segunda etapa: Yane, a hospedeira, teria um prazo de uma semana para amar fervorosamente a morte já matada no subconsciente, e na segunda semana odiá-la ardentemente, e não entender o porquê que ela existe, mesmo que os conceitos teológicos a explicassem.



*Terceira etapa: esta etapa dependeria da primeira e segunda etapa, pois caso a morte não morresse e caso Yane não amasse na primeira semana e odiasse-a na segunda, só restaria a chance de forjar o suicídio da morte, sem dar o mero prazer da morte deixar alguma carta avisando a Eventualidade que ela morreria.



          O Doutor Mozi fitara educadamente Inovít, como se querer-se expressar algo importante. Inovít fitara Yane, e Yane esmiuçava o além das janelas: a liberdade digna, quase um gozo facial infiltrada nas horas educadas do amor, fazia de Yane uma libélula humana, com asas que cortavam a pele sensível das ilusões.

          Nos primeiros dias longe da capital, e respirando agora o aroma do campo, ela premeditava matar a morte em seu subconsciente. Sabia que deveria amá-la na primeira semana e odiá-la na segunda. Foi o que aconteceu. Sendo assim, a terceira etapa não vinha em questão. E isso seria possível? Embora para muitos com uma mentalidade tecnológica do século XXI, acreditasse que seria loucura, e era uma loucura. Mas então, o que seria da loucura, se não fosse à ultrapassagem das barreiras do impossível a procura da razão verdadeira? Isto era o que a cientista Yane pensava. E que a população de cérebros pensantes estavam em dúvidas de compreenderem.



                                       (Autor: Carlos André)

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