terça-feira, 15 de outubro de 2013

Poema - Relíquias



Relíquias
                  
Do começo, miro o sofá, a cama vazia, o edredom jogado ao chão
Desde o início, aperto a tecla caps lock
Vejo o SOFÁ maiúsculo,
a CAMA maiúscula,
o EDREDOM maiúsculo,
Jogado ao CHÃO maiúsculo...

Flerto com o descompasso articulado
Caso-me com a teoria conformista
Divorcio-me das tantas incoerências
Refugio-me disciplinadamente
Embora, haja tantas situações minúsculas...
Reparo nas distintas razões razoáveis.

Desde o princípio, contemplo a praticidade
De quando a vida passa rapidamente
Congelo os momentos grandiosos
À reciprocidade...
Quedem as ÁRVORES maiúsculas,
 aceleram os movimentos minúsculos
da MÁQUINA maiúscula,
do homem minúsculo.

Repentinamente a textura da pele não tem a mesma cor
A mesma cor não tem a mesma pele
A pele não tem a mesma cor
Da cor da tua pele
Da pele da tua cor
Tingida sutilmente.

Enorme é o curso das águas
O trajeto é minúsculo do curso das águas
O relevo é maiúsculo em quaisquer Direções
O maiúsculo é a direção do teu Relevo
Da minúscula direção no qual relevamos, velejamos.

Rostos minúsculos,
SEIOS maiúsculos,
olhos minúsculos,
ABAJUR maiúsculo
Rostos, seios, olhos, e abajur, são do tamanho declarável
Intenso conhecedor de si
Dispenso tacanhas representações.

O suor, gosto salgado do corpo
suor minúsculo do CORPO maiúsculo
O medo, do medo minúsculo ao MEDO maiúsculo
A primeira façanha, da façanha segunda
Demonstrada pela façanha primeira
É interessante buscar na mão os primeiros pingos de chuva
Roupa molhada, corpo molhado, suor molhado
Na chuva molhada
Interessante mesmo é ultrapassar com leveza os pingos de chuva
Tendo a certeza que os pingos de chuva na palma da mão
É minúsculo, correndo no CHÃO maiúsculo
Meu PENSAMENTO é maiúsculo
Minúsculo é o que você pensa
Não aperte o caps lock agora!

A minha VisÃo é maiúscula e minúscula
Depende da forma que confronto este mundo
(nem tudo que estás entre parênteses é verdade)
Nem quase todas as declarações de amor estão entre parênteses.

Ouço de mansinho o riacho que acabara de me invadir a mente
Outorgada de primeira ordem desses altos calões
Palavrinha, palavra, palavreado, palavrão
Se o corrupto não é honesto
Se o honesto não é corrupto
O que relatar do honesto corrupto
Do corrupto honestamente?
Latitudinal talvez seja o que escrevo  
Longitudinal talvez seja o que você inclui como herança
Daquilo que escrevo a espera de se encontrar
Nos pontos cartesianos.

Não sou cantor que canta o que não for pra cantar
Vivendo à custa do sobreviver
O poema que tem cheiro de prosa,
não tem cheiro de pólvora,
não tem gosto de gozo,
ou talvez tenha um pouco das duas...

O que mais me consome?
O que mais venho a refutar?
O que mais me solidifica aqui?
Folhas ao vento...
Miragens...

Sinto a completa hegemonia nascendo
Não sou um sofista autodeclarado
Os sofistas autodeclarados aos quais conheço,
nunca tiveram algo a pronunciar
Já que pronunciavam qualquer coisa
Sem antes pensar em serem exímios apólogos.

Do recomeço, miro a vida por entre o buraco da fechadura da porta
Agora a pouco minha vida se passara minúscula
Durante os tempos perdidos que nunca voltam
Dilatam ou se contraem...
Ou fica na mesma iminência de sempre!

E se em algum momento não sabeis do que falo
Aperte a tecla caps lock
E comece tudo de novo...

(Autor: Carlos André)

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