Hortência
Mulher determinada esta
Hortência. Quase sempre não se desvanecia. Hortência era menina, menina mulher.
Uma jovem na verdade, com suas vinte e oito primaveras. Uma jovem com tendência
a ser adulta.
Todos os dias – ou quase
todos os dias – Hortência lia debruçada sobre a relva. Nos intervalos, fazia
daquilo tudo um piquenique: mordia o pedaço da maçã, que não era dos livros,
mas da realidade, como se saltasse para fora dos livros. Saboreava uma parte do
melão com gosto de jabuticaba, e relembrava de tua infância.
Quando criança adorava
sonhar de braços abertos na relva. Pensava
nas possibilidades que existiam de afinidade, entre ela, e o autor daquele
livro.
Hortência - sempre, ou quase
sempre – ia ao cinema e chamava sua amiga Natty. Natty era diferente de Hortência, pois Natty
não era aventureira nas palavras, nos livros de cabeceira. Natty era
aventureira nos gestos, no olhar, era muitas vezes objetiva do que a intensa
subjetividade de Hortência, que era aquela mulher voltada para a sua criativa
imaginação.
Ao contrário de Natty,
Hortência sofria com certos desencantos da vida. Um exemplo: Hortência mal
enamorava nos primeiros dias, que no último dia da semana, idealizava que este
seria teu futuro marido. No final, Hortência descobriu que ele tinha outra no
coração. Vai saber o que passava no coração de Hortência. Têm vezes que o
coração começa a pensar mais do que a mente. Deixemos de lado esta história e vamos
para outra.
Certo dia, Hortência foi
convidada para a festa de aniversário de sua amiga Mary, que diferente de
Natty, era aventureira em esbanjar vaidades. O que falar da cama repleta de
presentes quando ela chamou Hortência e Natty para ajudá-la a desembrulhar.
Só foi pisar o pé no limiar
da porta, que Mary se voltou para Hortência e Natty, e proferiu em êxtase:
- Vejam só...quantos
presentes eu ganhei!!!! Isso não é uma maravilha? Todos esses presentes
demonstram que sou uma mulher prendada, e muito popular, principalmente com os
garotos.
Hortência estava quase
explodindo de raiva, não diria inveja amarga, pois ela pouco sentia. Estava
quase a dizer para Mary: “Amiga, melhor você jogar teu excesso de vaidade pela
janela, e trazer de volta e em abundância, tua humildade”, mas Hortência se
conteve, e bem lograva em retornar para casa, voltando tua atenção para o livro
que tinha começado a ler.
A Natty? Não sei o que
pensava no momento. Ambas, tanto a Hortência e Natty se contentavam em dizer:
“Que lindo amiga!”. Porém, pelos gestos, suponho que Natty olhasse de esguelha,
com desprezo para aquela atitude mesquinha da Mary.
O aniversário chegou ao fim.
Todas as luzes do apartamento se apagaram, pois era de descanso. Hortência
retornou para a casa sem revelar o que passou pela tua mente no momento dos
presentes espalhados na cama e atitude pouco.
Ao amanhecer, quando o sol
tangeu as montanhas e os picos gelados, e saldara também os ímpios, estava lá
Hortência, debruçada sobre a relva, lendo teu outro livro, mantendo uma relação
íntima com o autor daquela história diferente daquele, de outro dia. Se
procurar e não encontrá-la, pouco importa caro leitor arguto. Hortência muitas vezes podia está dentro do
livro, e no momento em que poucos esperavam, Hortência podia saltar do livro
para a realidade, como agora!
(Carlos André)
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