Norma Jean
Antes de Marilyn Monroe ser a Marilyn Monroe dos filmes e das
capas de revista, ela era simplesmente Norma Jeane Mortenson (Baker), ou para
os íntimos e familiares a Norma Jean: uma menina órfã, que por ter sido
retirada de sua mãe Gladys, sendo que esta, no momento não estava em condições
mentais de responsabilizar por teu cuidado, e, além disso, o teu pai Baker,
havia abandonado-lhes, e levou teus outros dois irmãos para longe de Los
Angeles. Assim, Norma Jean viveu quase toda sua infância nos orfanatos, tendo
sido criada no início da adolescência pela Grace, amiga de sua mãe.
Antes de trocar a água do jarro de flores e sair lá fora para
ver se na caixa de correio chegara alguma carta importante, reparei atentamente
no quadro da Marilyn – foto tirada em julho de 1955 pelo fotógrafo Milton H.
Greene - exposto na parede de minha sala: “ela passou maquiagem em excesso
neste dia”, pensei comigo sorrindo. Não que isso não fosse permitido nos sets
de filmagem, sendo que a maquiagem realçava ainda mais tua beleza. Porém, o
excesso de maquiagem poderia ser um disfarce da dor; dos remédios para dormir principalmente
do barbitúrico; ou do medo de não dar certo outra vez nos estúdios de filmagem,
uma apreensão antes de rodar cada cena.
Depois de colocar as flores na nova água, pois aquilo fazia
rejuvenescê-las, e ter me servido de um bom café quente na xícara de porcelana
branca, reparei de novo naquele sorriso meigo da Marilyn, de uma suavidade
refinada como a chuva passageira na tempestade. Suponho que Marilyn ligasse
para o dramaturgo Arthur Miller – teu marido neste período de sua vida – para
dizer-lhe sobre o roteiro do próximo filme, ou quem sabe, dando-lhe uma bronca
sobre algo que passou na casa deles, em relação ao declínio de suas relações
conjugais. Ou será que Marilyn chamaria o teu professor de teatro – Lee
Strasberg - para recomendá-la inovações nas próximas atuações? Se bem que
acredito, e bem provável que Marilyn ligasse ou mandasse um telegrama ao teu
psicanalista particular, Ralph Greenson, para que este a ajudasse no momento conturbado
de sua vida, e também nos momentos decisivos dos filmes que viriam, indicado-a
novas sessões de análise.
Não é surpreende dizer-lhes, que Marilyn é uma das minhas
atrizes favoritas do universo cinematográfico. Em destaque, dois dos meus
filmes favoritos onde ela atua divinamente, além de tantos outros: “Quanto mais
quente melhor” e o “Pecado mora ao Lado”. Embora não seja do meu agrado certos
filmes hollywoodianos, em que já sabemos o que acontecerá no final da cena, todavia,
estes são diferentes para mim, porque explicam melhor o poder de sensualidade e
de humor da Marilyn Monroe, e ao mesmo tempo, a superação de Norma Jean com teu
passado.
Um dia li no jornal que a biógrafa da Marilyn disse que o
movimento do feminismo poderia ter salvado-a, se o ápice do feminismo tivesse
eclodido antes de sua morte em 1962.
Será mesmo que poderia? Há uma compaixão e também culpa, ou seria culpa
da imprensa sensacionalista pelos boatos de ser a amante do presidente John
Kennedy? Claro que o movimento do feminismo fortaleceria ainda mais o desejo de
liberdade e respeito diante dos papéis que Marilyn interpretaria. Mas somente o
feminismo não seria tão decisivo para tirá-la dos domínios dos excessos dos
tranqüilizantes; daqueles diretores que queriam usufruir de tua imagem ingênua
e simples, esquecendo que atrás daquela imagem, existia uma mulher que também
sentia amor e ódio, desejo e prazer. Uma simples mulher que era irreverente,
mas de uma irreverência com uma dose de ingenuidade, perspicaz e humana.
(Carlos André)
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