segunda-feira, 24 de julho de 2017

Crônica - Norma Jean

Norma Jean























Antes de Marilyn Monroe ser a Marilyn Monroe dos filmes e das capas de revista, ela era simplesmente Norma Jeane Mortenson (Baker), ou para os íntimos e familiares a Norma Jean: uma menina órfã, que por ter sido retirada de sua mãe Gladys, sendo que esta, no momento não estava em condições mentais de responsabilizar por teu cuidado, e, além disso, o teu pai Baker, havia abandonado-lhes, e levou teus outros dois irmãos para longe de Los Angeles. Assim, Norma Jean viveu quase toda sua infância nos orfanatos, tendo sido criada no início da adolescência pela Grace, amiga de sua mãe.

Antes de trocar a água do jarro de flores e sair lá fora para ver se na caixa de correio chegara alguma carta importante, reparei atentamente no quadro da Marilyn – foto tirada em julho de 1955 pelo fotógrafo Milton H. Greene - exposto na parede de minha sala: “ela passou maquiagem em excesso neste dia”, pensei comigo sorrindo. Não que isso não fosse permitido nos sets de filmagem, sendo que a maquiagem realçava ainda mais tua beleza. Porém, o excesso de maquiagem poderia ser um disfarce da dor; dos remédios para dormir principalmente do barbitúrico; ou do medo de não dar certo outra vez nos estúdios de filmagem, uma apreensão antes de rodar cada cena.

Depois de colocar as flores na nova água, pois aquilo fazia rejuvenescê-las, e ter me servido de um bom café quente na xícara de porcelana branca, reparei de novo naquele sorriso meigo da Marilyn, de uma suavidade refinada como a chuva passageira na tempestade. Suponho que Marilyn ligasse para o dramaturgo Arthur Miller – teu marido neste período de sua vida – para dizer-lhe sobre o roteiro do próximo filme, ou quem sabe, dando-lhe uma bronca sobre algo que passou na casa deles, em relação ao declínio de suas relações conjugais. Ou será que Marilyn chamaria o teu professor de teatro – Lee Strasberg - para recomendá-la inovações nas próximas atuações? Se bem que acredito, e bem provável que Marilyn ligasse ou mandasse um telegrama ao teu psicanalista particular, Ralph Greenson, para que este a ajudasse no momento conturbado de sua vida, e também nos momentos decisivos dos filmes que viriam, indicado-a novas sessões de análise.

Não é surpreende dizer-lhes, que Marilyn é uma das minhas atrizes favoritas do universo cinematográfico. Em destaque, dois dos meus filmes favoritos onde ela atua divinamente, além de tantos outros: “Quanto mais quente melhor” e o “Pecado mora ao Lado”. Embora não seja do meu agrado certos filmes hollywoodianos, em que já sabemos o que acontecerá no final da cena, todavia, estes são diferentes para mim, porque explicam melhor o poder de sensualidade e de humor da Marilyn Monroe, e ao mesmo tempo, a superação de Norma Jean com teu passado.

Um dia li no jornal que a biógrafa da Marilyn disse que o movimento do feminismo poderia ter salvado-a, se o ápice do feminismo tivesse eclodido antes de sua morte em 1962.  Será mesmo que poderia? Há uma compaixão e também culpa, ou seria culpa da imprensa sensacionalista pelos boatos de ser a amante do presidente John Kennedy? Claro que o movimento do feminismo fortaleceria ainda mais o desejo de liberdade e respeito diante dos papéis que Marilyn interpretaria. Mas somente o feminismo não seria tão decisivo para tirá-la dos domínios dos excessos dos tranqüilizantes; daqueles diretores que queriam usufruir de tua imagem ingênua e simples, esquecendo que atrás daquela imagem, existia uma mulher que também sentia amor e ódio, desejo e prazer. Uma simples mulher que era irreverente, mas de uma irreverência com uma dose de ingenuidade, perspicaz e humana.


(Carlos André)

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