As Margaridas também sentem
Percebi que ao levantar, e muito antes de pegar o jornal e
abri-lo para ler as novas notícias do dia, estava absorto a olhar para a janela
turva pelo início da neblina. Poder-se-ia escrever naquela janela em letras graúdas:
SENTIMENTO. Naquele dia, o céu estava cinza, de um cinza insólito. Penso que o
pintor adoraria ter-la em tua variedade de paletas.
Ele pintaria uma paisagem diferente, e não esta que vejo
escrito hoje pelo jornal, e que quiçá, amanhã lerei com a mesma tonalidade de
escrita do que fora redigido.
O que mais me contagiou de uma leveza cortante foi aquela
margarida do jardim, e justo agora me lembrei da Margarida-mulher, como se eu
viesse ao mundo hoje e desvendasse a luz, e no mesmo instante, que ocorria o
deslumbramento, uma lâmina cortasse meu cordão umbilical que ligava a minha
mãe.
A margarida, que vencia o início da neblina e que mais tarde,
venceria a tempestade. Isso não estava escrito no jornal, nem tampouco nas
manchetes da previsão do tempo. Pois as margaridas, além de felizes, também
sentiam dor: emoção.
(Carlos André)
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