segunda-feira, 24 de julho de 2017

Crônica - As margaridas também sentem

As Margaridas também sentem

















Percebi que ao levantar, e muito antes de pegar o jornal e abri-lo para ler as novas notícias do dia, estava absorto a olhar para a janela turva pelo início da neblina. Poder-se-ia escrever naquela janela em letras graúdas: SENTIMENTO. Naquele dia, o céu estava cinza, de um cinza insólito. Penso que o pintor adoraria ter-la em tua variedade de paletas.

Ele pintaria uma paisagem diferente, e não esta que vejo escrito hoje pelo jornal, e que quiçá, amanhã lerei com a mesma tonalidade de escrita do que fora redigido.

O que mais me contagiou de uma leveza cortante foi aquela margarida do jardim, e justo agora me lembrei da Margarida-mulher, como se eu viesse ao mundo hoje e desvendasse a luz, e no mesmo instante, que ocorria o deslumbramento, uma lâmina cortasse meu cordão umbilical que ligava a minha mãe.

A margarida, que vencia o início da neblina e que mais tarde, venceria a tempestade. Isso não estava escrito no jornal, nem tampouco nas manchetes da previsão do tempo. Pois as margaridas, além de felizes, também sentiam dor: emoção.


(Carlos André)

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