sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Novela - O PIANISTA

Capítulo XXV – A vinda dos que faltavam;

- Você sabe a minha resposta! – Confessava Pérola, meio inquieta entre um sorriso e uma timidez por trás das palavras.
- Sim, eu sei! Pressinto...
- Me emocionei no Nessun dorma!
- Principalmente com essa música que pretendi homenagear os meus pais; meus avós!
- É lindo saber disso! Você me orgulha!
- Fico feliz em saber!
- Parabéns querido Alfred! – Se ajuntou Camila na conversa, depois de ter cumprimentado e conversado rapidamente com Armênio e Leocádia! – Espetacular! É isto que te define garoto!
- Grazie Camila! Vamos agora pra casa? Acredito que meu tio já tenha chegado... você conhecerá ele... gostarão dele; não sei qual motivo ele não veio para minha apresentação.

Na cela, Giuseppe contorcia-se nos poucos espaços do colchão moribundo, praticamente pregado ao chão gelado da noite tenebrosa. Madalena não fechava os olhos.

- Giuseppe, devemos ligar para sua irmã!
- Madalena, deixe de ser tão inocente! – Sussurrava Giuseppe, com a boca seca. Queria água, mas não podia pedir.
- Não custa tentar Giuseppe! – Insistia Madalena.
- Uma: eles irão grampear a linha telefônica, por suspeitar.  
- Mas não temos nada a ver com aquele fusca cinza que passou ao nosso lado!
- E quem disse que aquele fusca passou ao nosso lado? – Confessava Giuseppe, no dorso do ouvido esquerdo de Madalena.
- Você mentiu!!!! – Exclamara atônita Madalena.  
- Chiuuu! Fale baixo Madalena!
- Se eles descobrirem, não sei qual será a nossa salvação.
- Acalme-se! Vamos tentar dormir. Amanhã será um novo dia. Tomara que saiamos daqui, logo pela manhã!

E como foi dito, aconteceu. O general vindo com seu passo imperial pelo corredor, posicionando militarmente, anunciara de frente da cela:

- Infelizes! Só porque hoje eu acordei de bom humor, vocês já podem ir. Sumam, antes que eu mude de ideia. Pelo que notei, as informações coincidem. Nós já identificamos o fusca.
- O quê!? – Exclamara Madalena de novo. Madalena não sabia se conter. 
- Sim madame! Nós identificamos e já estamos tratando do caso. Qual o motivo do susto?
- Não, é....porque... talvez eles... possam...deveriam...pela velocidade que... – se atrapalhava toda Madalena. Seu nível psicológico já estava alterado pela noite na cela, além de outras causas.
- General, minha esposa quer dizer que conforme a velocidade que eles passaram por nós, eles já deveriam ter percorrido uma longa distância! Perdoa-lhe! Ela está muito cansada.  
- Vão logo, e nunca ousem testar a paciência deste general que vocês veem diante dos seus olhos, ok?
- Tudo bem! – Finalizara Giuseppe, com a respiração ofegante, mas firme e forte, como devia ser naquele momento.

Pérola implorava para Camila:

- Mãe, vamos!
- Desta vez não dará certo Pérola! Desculpe Alfred, mas da próxima vez, uma outra oportunidade que com certeza haverá, iremos conhecer seu tio! A Pérola tem tarefas escolares hoje! – Desculpava-se Camila, mas as “tarefas escolares” não era um bom argumento para não irem, ou pelo menos, deixar Pérola ir com os Alves Botticelli.
- Tudo bem! Meu tio ficará uma semana com a gente. Assim...
- Que bom! Está vendo, teremos outras oportunidades! – Interrompera Camila na fala de Alfred, no qual este queria deixar Camila numa mesa de sinuca, se formos utilizar uma imagem metafórica de jogo -. Bem, esta é o que me veio no momento.
- Até mais, Alfred! – Pérola abraçava Alfred, e o beijava no rosto.
- Até mais Pérola! – Com a expressão mais para melancólico do que depreciativo, pronunciara Alfred com a fala cortante, embora, no final, também a beijaria no rosto.  
- Tchau, querido! – Despedia-se Camila.
- Até...! – Respondia Alfred.

 No caminho para casa, Alfred, que se encontrava no banco de trás, encostava a cabeça nos ombros de Cyndi – que estava no canto da janela - como gesto de que queria carinho, um afago para aliviar o que não deu certo. Cyndi entendia: fazia carinho em seus cabelos, em sua testa, afagando o rosto de Alfred, por onde estava descendo secretamente lágrimas, de desgosto amargo. Além do mais, ela viu Alfred crescer de tão perto, mais do que seus pais. Enquanto a cena acontecia, Leocádia e Armênio conversavam algum assunto no banco da frente, sem perceberem que os dois estavam muito quietos.  

Chegaram no apartamento. Margaret, que acordou com o barulho do carro e descia do colo de Luíza, corria para abraçar Alfred. Este a colocava no colo.

- Alfre...!!! Per que “cê” tá tis...te? – Perguntara inocentemente Margaret.
- Oi Margaret! Você é difícil em dormir enquanto eu não chego, não é?! Não estou triste, estou cansado da noite de concertos, do piano, que você tanto gosta de me ver tocando, e infelizmente você não pode ir. – Alfred mentia quando dissera que não estava triste.
- Luíza, você já deu a mamadeira para Margaret? – Perguntara Leocádia.
- Sim, senhora!
- Pois bem, vamos todos dormir agora! Proclamava Armênio.
- Amanhã eu te conto tudo Margaret, pois agora estou cansado da noite que foi! Um beijo... isso! – Dizia Alfred, colocando a Margaret no chão, alegando está muito cansado da noite.
- Tudo bem! Vai descansar meu filho! A noite foi intensa para você, para todos nós! – Afirmava Leocádia.
- Isso Alfred! Descanse! – Consentia Armênio.

Cyndi o acompanhou até o quarto. No colo de Cyndi, mesmo não conseguindo chorar, expor tudo para fora o que sentia, poucas lágrimas como aquelas que fluíram dentro do carro começou a deslizar pelo seu rosto liso, foi quando Alfred disse para Cyndi:

- Por que Camila não deixa Pérola vim dormir aqui mais?
- Penso... não sei se você se lembra, mas há quatro anos, o pai de Pérola esteve aqui, no dia do jantar...
- Sim, eu lembro!
- Então, acredito que sua pergunta possa ser respondida, conforme o que eles decidiram quando estiveram lá em cima.
- Pérola gosta muito do seu pai! Ela confessou isso para mim. Lembrei: o nome dele é Ricardo!
- Eu até entendo Pérola.
- Cyndi, talvez possa ser outra coisa!
- Mas que coisa seria?
- Não sei... você sabe que eu e a Pérola somos muito interligados. A nossa amizade é muito forte. Talvez ela sinta um pouco de ciúme.
- Não preocupe com isso agora, meu bem! A Camila te adora tanto. Por que ela não gostaria de ti, heim?
- Não sei; eu sinto às vezes um desprezo, quando eu convido Pérola para vim aqui, e Camila inventa alguma história mirabolante, impedindo-nos!
- Não é desprezo Alfred! Suponho que seja pela discussão daquele dia do jantar.
- Va benne! Pode até ser.
- Durma querido! Tente dormir e descansar, você precisa recuperar o ânimo para os próximos dias que virão.
- E o tio Giuseppe que não veio?
- Pois é, isto é um mistério! Eles avisaram que sairiam anteontem. Vai ver eles resolveram virem outro dia!
- A tia Madalena vem?!
- Sim!
- Isso é um milagre!
- Acredito que fará bem para ela, ficar uma semana fora de Guanabara!
- Eu a conhecerei, finalmente!
- Sim! Agora vá dormir. Buonna notte querido primo Alfred!
- Buonna notte, minha querida prima Cyndi!


(Carlos André)

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