Capítulo
XXXII – Os desmembramentos;
- Margaret, calmati! – Dizia Alfred, carinhosamente abraçando-a, se
prontificando a ajudá-la.
- Alfred, eu não entendo por
que eles não deixam? – Margaret se indignava.
- Você sabe que o nostro
padre e a nostra madre lhe querem sempre o bem. Eles são preocupadíssimos que
algo dê de errado nesta sua viagem, se compararmos com o momento atual que a
Rússia está vivendo. Eu também preocupo muito contigo, embora eles tenham
exagerado em pelo menos não conversar com a Valéria a respeito de como será de
fato a excursão da Companhia de Balé do Compasso e Virtude. Eu gosto muito de
vê-la dançar, saiba disso. Logo, quando eu ficar mais de folga da peça do
maestro Joaquim, irei compor no piano para que você dance... mas Margaret,
pense nisso que estou lhe dizendo, por mais que o padre e a madre estejam
totalmente equivocados nesse quesito.
- Sì, meu caro irmão! Às
vezes me pergunto: por que é mais fácil para você do que eu? – Questionava
Margaret na procura de algum caminho concreto.
- Não é isso Margaret! Pelo
menos eu não vejo assim, do jeito que você vê. Talvez eles te protejam mais por
você ser a única filha “mulher”, a caçula da família. O incrível é que, o piano
e o balé, são artes que se combinam. Em ambos, você exercita quase todas as
articulações. No balé usa-se mais os pés, ao contrário do piano que usam mais
as mãos.
- E suas mãos estão
melhorando?
- Sì! Consultei o Dr. Arquimedes!
– o Dr. Arquimedes era o médico da família (especialista em mãos, e nas horas
vagas, psicanalista) - Ele me disse que a causa dessas dores nas articulações
das mãos, resulta-se dos movimentos repetitivos. O nível de gravidade irá
depender do grau de atuação do musicista em sua área. No caso da minha, o
piano, o radiograma das minhas mãos deram perfeitas quanto ao conjunto ósseo. O
inchaço na ponta dos dedos e a vermelhidão, conforme o que ele disse, é início
de reumatismo. Durante um mês tomei o remédio para cortar a progressão Mas estou muito melhor do que algumas
semanas anteriores. Você viu como eu me queixava das insuportáveis.
- Sì, fratello mio! –
Margaret abraçava-o – Grazie per avermi aiutato!
- Per niente, mia sorella!
Hoje eu recebi a segunda carta da Pérola! – Exaltava Alfred no final da
sentença.
- Que Por favor, leia para
mim!
- Sí! – Alfred retirava a
carta do bolso dianteiro da calça, e lia.
“Meu querido Alfred!
Aqui as coisas vão bem.
Infelizmente está sendo difícil me acostumar com a turma. São somente seis
brasileiros numa turma de vinte franceses, e eu sou a única menina da turma.
Estou me esforçando muito na matéria referente à língua francesa, pois quero
muito aprender este idioma.
Meu coração está tão partido
sem saber respostas suas. Sei que fizemos um trato de mandar cartas pelo menos
duas semanas de cada mês, mas até o mês de fevereiro, todos os carteiros que fazem
entregas no meu bairro, estão em greve pela melhoria das condições de trabalho
e renumeração. Lembra quando estudávamos sobre a Revolução Francesa? Pois
então, este acontecimento me fez lembrar quando você proclamava “Liberté,
égalité, fraternitéI”, e isso dizia tudo sobre a busca dos nossos direitos.
Agora entendo o porquê da greve dos carteiros. Tomara que em fevereiro eles
retornem, pois não aguento mais esperar um dia para responder suas cartas.
Escreverei mais do que duas, para compensar o atraso. E para não perder a
tradição, escreverei em italiano essa simples declaração:
Ti amo tanto mio caro! Já
quero está contigo para sempre.
Della tua ragazza e querida
Pérola!
Beijos para a Margaret e
família.
Obs: na próxima carta me
fale de como está a Cyndi!
Até, mio amore!!
31/10/1980.”
- Alfred, eu tenho tantas
saudades da Pérola! Na próxima carta escreva dizendo que eu quero que ela venha
logo.
- É o que mais peço a
Pérola, Margaret!! Esperava que ela viesse no natal, mas Camila irá visitá-la.
Até pensei em pedir o nostro padre e a madre para que deixasse que eu fosse com
a Camila para Paris. Além do mais, daqui dois anos, estarei completando dezoito
anos, e Pérola completará em março de 82, dezessete.
- Peça ajuda ao professor
Joaquim! Quem sabe ele não inventa uma excursão de apresentação... de algum
concerto para piano do Claude Debussy... ou Georges Bizet... Maurice Ravel...
- Não se exalte tanto,
Margaret!! Faltou Guillaume de Machaut na lista – Alfred, com seu bom humor,
sorria para Margaret, e continuava - As excursões nesse período que se aproxima
do natal são escassas. A maioria dos maestros não enfrenta uma excursão nesse
período, para estarem junto de suas famílias para o natal e réveillon. Aguardemos...
(Carlos André)
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