Capítulo
XVII – Enquanto isso...
A conversa agora se iniciou,
calmamente, com um pedido de desculpas de Rodrigo:
- Camila, me perdoe!
- Por que você não trouxe
sua amante para conversarmos?
- Ela não é minha amante, é
somente uma amiga de trabalho, nada mais!
- Não me venha com esse papo
chantagista Rodrigo! Sei muito bem que suas viagens para Buenos Aires era uma
desculpa de afastar o problema.
- Não, você está errada
Camila! Eram viagens sim a trabalho, e eu senti um pouco de apreensão do que
eles pudessem concluir, se eu não tivesse ido para Argentina. Quase todos ali
apoiam a ditadura. Já imaginou o que eles diriam: “Rodrigo, não foi resolver os
assuntos mais urgentes da empresa, esse é contra a ditadura”, ou “Rodrigo,
aquele? É comunista”. Somente eu, Roseli, Bruno e Parmeríndio não apoiamos a
ditadura, mas deixamos ninguém ali saber disso. Se quiser, pode ligar para meu chefe,
perguntando o que de fato eu fui caçar na Argentina!
- Não é preciso! Eu sei o
que os meus olhos veem.
- O que eles viram foi um
assedio de Roseli. Saiba que Roseli é uma moça sozinha, que perdeu o pai há
pouco tempo, estava se sentindo sozinha, sem ter alguém para conversar, foi daí
que ela me beijou a força. Deixo bem claro, que o beijo partiu dela. Coincidiu
de você entrar no escritório naquele momento.
- Não penses que eu seja tão
boba assim, como certas mulheres por aí! Não coloque a culpa na coitada da
Roseli!
- Não estou culpando-a, só
estou explicando pra você a verdade!
- A verdade não precisa ser
explicada. Ela já está lá, fixa e determinada, sem mudanças. Agora, a mentira,
essa sim precisa ser explicada por detalhes, para que não haja dúvidas.
- Já chega de filosofia de
vida, Camila! Não se esqueça que eu sustento aquela casa, e você deixa a nossa
filha nas mãos de pessoas que eu não conheço!
- Não julgue antes de
conhecê-los! Eu não lhe compreendo mais, Rodrigo! Eu quis procurar emprego,
torna-me mais independente depois que Pérola atingisse uma idade adequada, mas
você logo veio com a conversa: “Ah, não! Quero que você fique cuidando da casa
e da nossa filha! Deixe que eu vá procurar trabalho!” Está aí, um dos motivos
que o divórcio agora, seria a melhor escolha.
- Eu nunca lhe impedir de
ser independente, Camila! Você fez suas escolhas, enquanto eu fiz a minha. O
divórcio faria nossa filha, de apenas quatro anos, sofrer sem compreender os
motivos que seus pais ainda não estão mais juntos.
- Já percebeu que estamos
jugando um ao outro, sem ao menos aproximarmos da verdadeira ferida que há em
nossa relação?
Enquanto isso, Cyndi dizia
ao pequeno Alfred:
- Querido, apresente para
sua amiguinha Pérola, alguma peça no piano! Acredito que ela irá adorar.
- Sim Cyndi! Pérola, quero
te mostrar um coisa!
O pequeno Alfred segurou na
mão pequenina e macia de sua amiguinha Pérola, e a levou para que o visse tocar
junto com Cyndi, as últimas peças aprendidas no piano. Com clave em Sol, ele
começou a tocar “Nocturne” de Chopin. Ré, si, lá, si, lá, sol, re, si, mi, fá ,
mi, re#, mi... enquanto os primeiros acordes que eram quase colados nos dedos
de Alfred jorravam em cima das teclas do piano, Pérola, sentada no banco de
almofada ao lado do pequeno Alfred, ia se divertindo, mesmo não compreendendo
as habilidades extraordinárias do seu amigo Alfred. O Alfred cresceu e agora
tinha dez anos. Dedicava uma peça para Pérola ao seu lado, que agora tinha nove
anos.
(Carlos André)
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