domingo, 5 de novembro de 2017

Novela - O PIANISTA

Capítulo XX – É onde a Margaret entra na história;

 Houvera um silêncio tão longo e indisplicentemente contagiante, quando Alfred pisou no palco do Palácio das Artes, recém-inaugurado em 1971. O piano de marca Fritz Dobbert - diferente da marca de pianoforte Fazioli que estava prestes a ser lançado -, figurava no palco à espera de Alfred e os ademais pianistas que fariam suas atrações naquela noite, na primavera de 1974.

O que acontece, ou melhor, o que aconteceu naquela noite ficará marcado na vida de Alfred e de seus familiares, e poucos amigos e colegas aos quais estavam ali.

Retornemos há algumas semanas antes, aonde Giuseppe e Madalena viriam da Guanabara para Belo Horizonte passar uma semana com a família Alves Botticelli. Estava com quatro anos que Giuseppe não via seu sobrinho (de sangue) Alfred, e ainda não conhecia sua recém-sobrinha Margaret. Madalena, não conhecia nenhum dos dois sobrinhos (de consideração).

A relação de pai e filha entre Giuseppe e Cyndi era consideravelmente equilibrada, não havendo conflitos de jogo psicológico. No entanto, a relação que havia com sua mãe nos últimos tempos, se contarmos desde a época que Cyndi discutiu sobre a opinião de sua mãe a respeito da morte de Marighella - mas não queremos julgar Madalena no tribunal sem direito a defesas, nada disso! – surgido a partir da notícia lida do jornal, veremos que faltava pouco para que ambas reatassem uma boa relação de mãe e filha. Teve uma vez que Cyndi ligou para Giuseppe toda contente:

- Pai, estou namorando! Quero que você conheça o Roberto!
- Quem?! Roberto?! Filha, não aceitarei qualquer namorado! Além de tudo, tenho que saber a procedência familiar desse rapaz, se é de boa índole. Não quero que ninguém faça minha filha infeliz! Você merece tudo de bom.
- Sim... pai! Você gostará dele, tenho certeza!
- E sua mãe, o que ela diz?
- Ela não sabe!
- O quê?!
- Exatamente. Não fiz questão de contar a ela.
- Você tem que fazer as pazes com sua mãe em questão destas coisas de mulheres!
- Minha mãe não entende nada de relacionamento. Não se importe se eu lhe disser que vocês tem tanta sorte que a relação de vocês anda numa boa.
- É porque já passamos desta fase filha!
- Sim, compreendo, mas vamos deixar de lado esta questão por enquanto. Vocês virão vim conhecer a Margaret? Ela tem quatro aninhos agora; não diga que o que lhes impedem é a distância de Belo Horizonte a Guanabara, e venham visitar seus sobrinhos. 
- Vou marcar com a Leocádia de irmos no próximo mês. Sua mãe que sempre me pressiona que não pode abandonar as costuras que tem para fazer no início do mês.
- Exatamente ela, que tem dez anos que não vê Alfred, praticamente nunca conheceu o menino! Se depender de seus esforços, ela nunca conhecerá Margaret! Pai, acredita que tia Leocádia matriculou Margaret numa escola de balé daqui do centro?
- Que ótimo! Não bastava um pianista na família, agora ela quer incentivar o gosto da menina ao balé. Tradição italiana esta, pois nossos pais sempre nos aconselhavam desde pequenos: “É preciso cuidar das bases, para depois pensar na altura”. Acredito que isso fará bem para Margaret. Estou ansioso para conhecê-la!
- Pois então, venha!
- Irei sim, filha! Mesmo que sua mãe não venha comigo, irei visitar vocês.
- Estou aguardando! Tenho que desligar agora, tchau, beijos! Ti amo papà!
- Ti amo figlia! Depois continuaremos aquela conserva de namoro.
- Sim... até papà!

Destarte, decorreram semanas para que não só Giuseppe pudesse finalmente conhecer sua sobrinha Margaret, como também Madalena pudesse se desvencilhar um pouco dos assuntos da costura, e ela veio, em carne e osso como diz o ditado.

Durante a viagem de Guanabara a Belo Horizonte, eles foram parados por uma escolta policial, que exigia toda a documentação do carro e do motorista. Giuseppe estava com os seus documentos pessoais, exceto a documentação do carro e a carteira de identidade. Em decorrência desde mau descuido, ou por suspeitas da polícia que operava naquela área, Giuseppe e Madalena foram levados ao DOI-CODI. Aguardemos os próximos capítulos, para saber de fato onde, no que esta história irá desencadear.


(Carlos André) 

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