Capítulo
XLI – Coincidências;
- Tchau! –
- Até logo! Respondia Magda
sem entender o gesto inusitado de Alfred.
Este já se encontrava longe
do Palácio das Artes. Havia pegado o ônibus, não queria voltar de carro com os
pais e a irmã, mesmo que esta merecia a presença do irmão no momento. Foi o
único que ela não havia visto, depois da sua apresentação.
Alfred precisava refletir um
pouco sobre a vida, e nada melhor do que retornar sozinho para casa, num ônibus
com poucos passageiros.
Há um momento da reflexão,
que ele tira da algibeira do terno listrado, a carta amassada pela raiva, pela
indignação do ocorrido, onde Pérola escreve para que Alfred a venha visitar,
pois ela está muito doente desde a morte da mãe, que morrera prematuramente de
Aids, transmitida pelo padrasto, conforme informações vindas de Rodrigo. Se é
que Alfred acreditava na inocência de Rodrigo, talvez sendo o grande
responsável por impedir a Pérola de visitar a mãe, aqui no Brasil, quando
Camila ainda estava viva!
Na carta não há nenhum
indício de endereço. No ônibus, Alfred conduzia seu pensamento a uma suposta
deturpação de endereços feita por Rodrigo, tornando-se o grande opositor da
vinda de Pérola para o Brasil. Onde estaria Pérola, nesse tempo que se passou?
Da janela do ônibus, Alfred
tem algum pressentimento de algum vulto, de alguma pessoa que passou perto de
sua janela. Ao olhar para trás da janela do ônibus, que ainda está em
movimento, Alfred se surpreende com a feição do rosto de uma jovem,
aparentemente com vinte anos, e se assemelhava bastante com aquelas fotos
mandadas por Pérola há algum tempo atrás, que Margaret retirou da gaveta a
pedido do próprio Alfred. A moça agora atravessava a avenida. Alfred logo pede:
- Pare este ônibus, por
favor! Quero descer.
- Desculpe, meu jovem
pianista! Não podemos parar, pois estamos numa rotatória! – Coincidentemente, o
cobrador do ônibus que admirava música clássica e conhecia a habilidade musical
de Alfred, além do jornal do seu pai, advertia-o quanto a impossibilidade de o
ônibus parar no momento.
- Mas eu necessito que pare!
Pois meu destino pode ser definitivamente traçado nesse exato momento, caso
vocês permitam que eu desça! – Concluía Alfred, decidido em não desistir de
convencer o cobrador e o motorista. Primeiramente o primeiro, pois a decisão do
segundo, resultaria na decisão do segundo.
- Você está bem, caro
pianista? – Perguntava o cobrador.
- Sim, estou ótimo! Nada
como uma boa caminhada para refrescar um dia intenso de apresentações no piano!
- Então, vou avisar o
motorista para deixar você descer, ali, naquele ponto! Não ficará muito longe
de onde você quis que parássemos.
- Grazie!
Logo que Alfred desceu, a
velocidade amortecida em seus pés tornou-se seu grande aliado. Alfred corria em
meio à multidão, na espera que encontrasse aquela moça, pela qual havia visto passando
ao lado de sua janela.
(Carlos André)
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