Capítulo
XXVII – O Reconciliar; no primeiro beijo;
Ao ouvirem a voz de Giuseppe
e Madalena comentando a respeito de algum assunto, antes que os donos da casa
se apresentassem na sala, Cyndi e Alfred percebem – Alfred até comenta “Cyndi,
eu conheço essa voz que vem da sala”, Cyndi diz “Eu também” -; assim, ambos vão
até a sala para os receberem.
- Tio Giuseppe!!! – Alfred grita
da sala, e corre para abraçá-lo.
Enquanto Alfred está
abraçando o tio Giuseppe, Cyndi, esquecendo todas as desavenças de opiniões na
relação com Madalena, exclama:
- Mãeee!!!
- Minha filhaaa!!!
Ambas se abraçam. Estancam a
ferida, que há algum tempo, estava sangrando demais, por dentro e por fora,
antes que ocorresse uma hemorragia sentimental e fluida. “Bom te ver minha
filha!”, declarava Madalena olhando nos olhos de Cyndi. “Eu também, mãe! Que
bom que você veio!”, respondia Cyndi, beijando a testa de sua mãe, como de
costume. Cyndi ainda abraçado com a mãe abraça também o pai. Esse não seria uma
surpresa nenhuma.
- Então, este é o meu sobrinho
Alfred! – Impusera Madalena com a fala virando para Alfred – Meu querido, vem
cá me dar um abraço, que a tia esperou tanto tempo por isso!
Alfred, mesmo não
demonstrando tanto apreço ou afinidade sentimental, abraçou sua tia, que ele
não conhecia. Esta ficou radiante. Penso que passar uma noite na prisão, fez
com que Madalena acordasse distribuindo favores sentimentais, principalmente
para aqueles que ela estava devendo. Faltava agora distribuir para Margaret.
A pequenininha, escutando o alvoroço
na sala, sai do seu quarto com os pezinhos descalços, a chupeta na boca, o
lencinho na mão, e quando os avista, logo exclama:
- Titio!!
- Margaret!! – Responde Giuseppe!
- Que menininha linda que
Leocádia e Armênio arrumaram! Venha aqui no colo da titia amor! – Exalta Madalena.
- Nãooo! Quero titio!! –
Margaret ergue as mãozinhas para Giuseppe pedindo colo. Mimada que só vendo
como era.
Giuseppe a pega no colo, e sussurra
no seu ouvidinho:
- Esta é sua titia Madalena,
Margaret! Pode ir no colo dela! - Só assim Margaret deixa Madalena pegá-la.
Há duas pessoas descendo as
escadas: Armênio e Leocádia chegam à sala. Leocádia dar as boas vindas ao seu
irmão, e também a sua cunhada. Armênio faz o mesmo. Os quatro sentam-se no sofá
para dialogarem melhor. Armênio pede a Luíza para trazer o café, pães de queijo,
biscoitos, e pedacinhos de bolos de chocolate.
Imagine toda a conversa: o
retorno ao fusca cinza, que era uma pura invenção para Giuseppe se safar
daquela empreitada, e que foi acatada como uma verdade para o general que
continha provas em sua mente, de que o fusca tinha sido resgatado; sem contar a
dormida na prisão; a carta do tal Gildásio, tudo isso sendo narrado junto o
bolo mastigado, e o café vindo depois para desentalar a faringe.
- Vocês escaparam por pouco!
– Comenta Armênio depois de uma pausa.
- Caro irmão, a gente não
pode brincar com esses militares! Claro que não podemos viver sempre com medo.
Eu digo nesse sentido de inventar... se compararmos que isso fosse num
tribunal: um álibi! – Recomenda Leocádia, preocupada com o ocorrido.
- Eu sei minha irmã! Mas no
momento, eu tive essa engenhosa ideia em dizer que o fusca tinha mesmo
aparecido em nosso caminho. Esta era a melhor alternativa para aquela ocasião –
Giuseppe tentava se justificar.
Cyndi, Alfred e Margaret, ouvia-os
atentamente sentados no sofá, noutro canto da sala, um pouco longe da tv.
Margaret pergunta:
- Ma..mãe!! O quê é uma
dit..a..dura e á..bi? – Perguntava Margaret. Leocádia sorria para sua filha,
como se naquele instante, fosse preciso alguém quebrar o gelo da conversa; do
clima pesado para uma criança de quatro aninhos ouvir.
- Filha, um dia você saberá...
de toda a história! Cyndi, leva a Margaret para tomar um banho!
- Sim, tia! Vamos, minha curiosa
Margaret!
- Por que tenho que ir, e o
Alfre... pode ficar? – Perguntava inocentemente Margaret.
- Porque o Alfre é grandinho
para entender sobre esses assuntos, filha! – Explicava Armênio, tentando
convencer a pequena Margaret, que acabou sendo convencida.
Dois anos agora se passaram.
Estávamos no primeiro semestre de 1976, e em quase todos os jornais apareciam
em manchete: Zuzu Angel perde o controle e morre em um acidente automobilístico.
Será que ela perdeu o controle mesmo, ou o acidente foi forjado por alguém lá
de cima, da base militar? Para os mais observadores e opostos ao golpe: os
principais suspeitos seriam aqueles que torturaram e mataram seu filho Stuart!
A morte de Zuzu abalou tanto
Cyndi, que esta ficara três dias de luto, mais do que Madalena, que por ser
costureira, nutria uma admiração pela estilista, e agora consentia que esta tivesse
sido mesmo assassinada. A experiência de uma noite de prisão no DOI-CODI há
dois anos, fizera de Madalena uma mulher convicta de que existia tortura,
mortes e desaparecimentos.
Alfred estava na quinta
série B, e faltava menos de cinco meses para ele completar doze anos. Já
podemos dizer um pré-adolescente, pois a fase da puberdade iniciaria.
Nesse tempo, Camila começa a
soltar mais a Pérola, assim, ela pode ir dormir um final de semana na casa da
família dos Botticelli Alves, (ou Alves Botticelli como queiram) e nos outros
finais de semana, na casa do seu pai Rodrigo, que está com uma nova mulher
agora, e não era a Roseli, era a Patrícia: amiga comum de trabalho de Armênio,
que Rodrigo conheceu nas ocasiões e destinos da vida.
Na saída do Colégio, Camila
convida Alfred para ir almoçar em sua casa. Nesse período, Alfred estava
ensinando redação e explicando períodos literários para Pérola – com onze anos agora
-, matéria favorita de Alfred até então.
- Então eu te espero lá em
casa Alfred! – Exclama Pérola.
- Sim, Pérola! E eu levarei
os livros que eu lhe prometi na hora do recreio.
- Tudo bem, eu espero!
- Tem mais uma coisa!
- E o que foi?!
- Isto...
Alfred não aguenta mais
esperar, e beija Pérola por cima dos lábios, daqueles lábios macios, finos e
meigos, enquanto Camila estava na sala de direção pegando o boletim. Seria o
primeiro beijo oficial, de tantos beijos ocultados na mente, retidos nos gestos
e palavras. Alfred se declara, e diz apaixonadamente:
- Eu te amo tanto Pérola!
Desde os tempos que éramos pequenos.. desde a primeira vez que lhe vi no
parque!
- Eu também te amo querido
Alfred!
Alfred e Pérola tencionam
que suas línguas se encontrem: encostem entre a superfície... bem perto do céu
da boca.
- Pérola, quero namorar
contigo!!
- Eu também Alfred! Mas você
tem que pedir minha mãe e meu pai primeiro. Nada de namorar escondido!
- Sim! Eu pedirei! Pode
deixar. – Afirmava Alfred, todo contente com o beijo que conquistara de Pérola
na saída da aula.
Se voltarmos na história, na
linha cronológica do novelista, podemos confirmar sem medo do que viesse pela
frente, que eles se gostavam há muito tempo: em silêncio!!
(Carlos André)
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