segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Novela - O PIANISTA

Capítulo XXVIII – Quando o rio é contínuo, é porque veremos logo na frente o mar!

O beijo daquela tarde fora sentida ainda hoje.

Camila não reprovava aquele sentimento, mas também não consentia que Pérola namorasse tão cedo, ou melhor, que ambos namorassem tão cedo. Rodrigo, dizia o mesmo: “Vocês são novos para namorarem”, exceto Patrícia, com seus cabelos loiros ondulados, e seu jeito compenetrado dentro da realidade, aconselhava: “Os deixem namorarem amor. Quando é verdadeiro, fica tão bonito!”.

Na casa de Alfred, havia um consentimento se fosse mais para frente, e da parte de Armênio, havia uma apreensão diante dos estudos com o piano, se isso poderia naquele momento, atrapalhar ou não. Todavia, Alfred lhe dizia:

- Pai, eu vou saber separar o meu relacionamento com Pérola junto com minha dedicação ao piano!

É de se citar, que o professor Joaquim (o maestro), não dizia “Não!”, como também não dizia “Sim” – era meio-termo -, naquele sentido de não escrever ainda em letras garrafais, onde pudéssemos destacar nos muros da eternidade, o valor que havia no amor puro de dois seres entrando na fase da adolescência.

Cyndi amou a notícia da oficialização do namoro. Sempre vira nos dois, uma semelhança de caminhos, sentimentos, e além do mais, praticamente cresceram juntos.

- Tia, os deixe namorar! Alfred ano que vem completará treze anos, Pérola já estará com doze.
- Não sei Cyndi! Eu temi que isso viesse acontecer em algum momento. Eu tenho um carinho enorme pela Pérola. Eu tenho que esperar também a parte de Armênio, e da família da Pérola. Sozinha, eu não posso decidir!
- Acredito que meu tio com certeza aceitará!
- Não seja tão confiante assim, Cyndi, com as intenções do seu tio.
- Eu sei tia! Meu coração diz...

E o coração de Cyndi o dissera realmente. Armênio aprovou o namoro, com as seguintes restrições:

“Primeiro, não é pra de jeito algum, o relacionamento de vocês atrapalharem, ou atrasarem, tanto nas tarefas escolares de ambos, como também no ensino de piano do Alfred;

Segundo, será da parte da família da Pérola, propor limites de horário de visita de Alfred, principalmente nos horários em que Pérola esteja ocupada com algum afazer;

E, terceiro e último, conforme a idade de vocês, o namoro será somente permitido aqui em casa na sala, nada de irem para o quarto, isso tudo com nossa devida atenção. Além disso, claro que o Alfred poderá levar Pérola para ir aos concertos de piano com ele, no teatro, cinema, óperas... isso se a família da Pérola convier.”

As exigências de Armênio, talvez não tivesse nada de ultrarromântico, mas para aquela época, por mais que a sexualidade tivesse sido libertada de certos padrões, isso se nós analisarmos veemente o início da década sessenta, ainda assim, ela era vista como tabu, a espera de ser libertada completamente.

Um ano havia se passado depois daquele beijo, Alfred já estava na sexta série, e havia trocado de turma e foi para a 6ªA. Alfred acostumou rapidamente. Estávamos em 1977, e faltava menos de três anos para que houvesse a Anistia.

(Carlos André)

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