segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Novela - O PIANISTA

Capítulo XXXVIII – É preciso que se dê tempo ao tempo!

- Va bene!! – Conformava-se Alfred – Esperemos então pra saber enfim do que essa conversa irá resultar!
- E a Pérola o respondeu?
- Ainda não! Mas ela me mandou fotos através de sua amiga. Está na gaveta, abre-a! Tem uma foto selecionada pra você.
Margaret abre a gaveta e encontra o embaralhado de fotos e cartas, entre as quais, uma carta a impressiona pelo formato e perfume diferente. Desde a partida de Pérola para Paris, talvez aquela fosse a primeira carta recebida por Alfred nos meses mais intensos da comunicação que se estabelecera entre ambos.
- Que carta cheirosa, Alfred! Essa aqui você nunca me mostrou que tinha recebido da Pérola! Ainda mais com um fio de cabelo dela em amostra!
- Eu mantive essa carta em segredo, até agora!
- Por quê?
- Eu não queria que ninguém o lesse, antes de ter certeza do que estava escrito era a pura verdade, relacionada aos nossos sentimentos.
- Posso ler?
- Agora pode!

“Meu querido e único amor que eu tenho e tive!

Hoje, minha menstruação desceu! A primeira de tantos ciclos, fases. A cada dia estou compreendendo o meu corpo, e suas exigências. Mas não é essa a grande novidade que eu tenho para lhe contar!
Tenho que lhe contar tantas coisas, e uma delas é o tempo.
Temo em não revê-lo mais, meu querido!
O que será do nosso tempo, será que teremos tempo, para amar de novo fisicamente, restabelecer o tempo que foi e estava sendo perdido?
Quero muito retornar ao Brasil, minha terra natal Belo Horizonte. Além disso, eu quero muito sentir o gosto do seu beijo doce e sereno de novo; eu quero me aventurar em seus braços, quero ter vários filhos contigo, e que eles tenham o mesmo talento que você.
Tenho poucos amigos aqui em Paris. Talvez o rio Sena tenha mais admiradores e turistas, do que eu em minha completa desarmonia com a vida. Eu te permito: pode rir de mim meu querido. Pra não dizer que eu não tenho sequer amigos verdadeiros aqui na França, contanto nos dedos, eu diria sete. Porém, nunca se igualará a nossa amizade construída desde criança.
Que os nossos filhos um dia leiam essa carta, e vejam o quanto seus pais se amaram, mesmo tendo a distância como principal vilã!”

 - Isso me tocou profundamente, caro fratello! E aquela ideia de você fazer excursão em Paris, está de pé ainda? Você pode revê-la! Os endereços estão na carta.
- Quase todos, Margaret! Na última carta, ela disse que mudaria de endereço, visto que Rodrigo, junto com a Pérola e a madrasta Patrícia mudaria de bairro, mas continuaria na capital. Quanto a excursão, não crie enormes expectativas. A Julieta, minha nova professora de piano, e que era assistente do eterno mastro Joaquim no Coral, tem novos planos para minha carreira de pianista para daqui há alguns anos – Joaquim havia se suicidado no mês passado, ao descobrir o verdadeiro motivo da morte do filho; fato este que abalou tanto Alfred, que o deixou de cama, embora no decorrer dos dias, ele tenha superado a partida do maestro, como se nada pudesse fazer para vencer a morte. 
- Saiba irmã – continuava Alfred - Julieta quer que quando eu entrar na faculdade e concluir o curso de Jornalismo, eu deva tentar carreira ou em Viena ou Alemanha como pianista.
- Que bom, caro irmão!
- Mas no momento eu não me agrado tanto da ideia. Primeiro, eu tenho que resolver minha situação com a Pérola, para depois pensar em despontar de uma vez minha carreira como pianista pelo mundo afora.
- Sim, e eu te ajudarei no que for preciso!

Margaret confortava o irmão. Abraçava-o afetuosamente, como muitas vezes ele fizera com ela, confortando-a em seus momentos de infelicidade passageira. Entretanto, a de Alfred não parecia, até o momento, ser tão passageira assim.

Na sala, tendo Cyndi que agora estava transformada, tanto fisicamente (pois a parte castanha do cabelo estava pintada de preto, e a outra parte ainda ruiva, mantinha o formato original desde quando a apresentei a vocês) e psicologicamente amadurecida com os baques da vida, havia chegado a um ponto final daquela discussão. Com a aprovação de Cyndi, Leocádia decidiu que o melhor caminho até o momento, é Giuseppe passar um tempo na Itália, até a dita poeira do delito do adultério se abaixar de uma vez por todas. Mesmo que Luíza não fosse tão santa, e também não fosse tão vítima assim, Leocádia a despede pagando o seu adiantamento.


(Carlos André)

Nenhum comentário:

Postar um comentário