Capítulo
XXXVIII – É preciso que se dê tempo ao tempo!
- Va bene!! – Conformava-se
Alfred – Esperemos então pra saber enfim do que essa conversa irá resultar!
- E a Pérola o respondeu?
- Ainda não! Mas ela me
mandou fotos através de sua amiga. Está na gaveta, abre-a! Tem uma foto
selecionada pra você.
Margaret abre a gaveta e
encontra o embaralhado de fotos e cartas, entre as quais, uma carta a
impressiona pelo formato e perfume diferente. Desde a partida de Pérola para
Paris, talvez aquela fosse a primeira carta recebida por Alfred nos meses mais
intensos da comunicação que se estabelecera entre ambos.
- Que carta cheirosa,
Alfred! Essa aqui você nunca me mostrou que tinha recebido da Pérola! Ainda
mais com um fio de cabelo dela em amostra!
- Eu mantive essa carta em
segredo, até agora!
- Por quê?
- Eu não queria que ninguém
o lesse, antes de ter certeza do que estava escrito era a pura verdade,
relacionada aos nossos sentimentos.
- Posso ler?
- Agora pode!
“Meu querido e único amor
que eu tenho e tive!
Hoje, minha menstruação
desceu! A primeira de tantos ciclos, fases. A cada dia estou compreendendo o
meu corpo, e suas exigências. Mas não é essa a grande novidade que eu tenho para
lhe contar!
Tenho que lhe contar tantas
coisas, e uma delas é o tempo.
Temo em não revê-lo mais,
meu querido!
O que será do nosso tempo,
será que teremos tempo, para amar de novo fisicamente, restabelecer o tempo que
foi e estava sendo perdido?
Quero muito retornar ao
Brasil, minha terra natal Belo Horizonte. Além disso, eu quero muito sentir o
gosto do seu beijo doce e sereno de novo; eu quero me aventurar em seus braços,
quero ter vários filhos contigo, e que eles tenham o mesmo talento que você.
Tenho poucos amigos aqui em
Paris. Talvez o rio Sena tenha mais admiradores e turistas, do que eu em minha
completa desarmonia com a vida. Eu te permito: pode rir de mim meu querido. Pra
não dizer que eu não tenho sequer amigos verdadeiros aqui na França, contanto
nos dedos, eu diria sete. Porém, nunca se igualará a nossa amizade construída
desde criança.
Que os nossos filhos um dia
leiam essa carta, e vejam o quanto seus pais se amaram, mesmo tendo a distância
como principal vilã!”
- Isso me tocou profundamente, caro fratello! E
aquela ideia de você fazer excursão em Paris, está de pé ainda? Você pode
revê-la! Os endereços estão na carta.
- Quase todos, Margaret! Na
última carta, ela disse que mudaria de endereço, visto que Rodrigo, junto com a
Pérola e a madrasta Patrícia mudaria de bairro, mas continuaria na capital.
Quanto a excursão, não crie enormes expectativas. A Julieta, minha nova
professora de piano, e que era assistente do eterno mastro Joaquim no Coral,
tem novos planos para minha carreira de pianista para daqui há alguns anos –
Joaquim havia se suicidado no mês passado, ao descobrir o verdadeiro motivo da
morte do filho; fato este que abalou tanto Alfred, que o deixou de cama, embora
no decorrer dos dias, ele tenha superado a partida do maestro, como se nada
pudesse fazer para vencer a morte.
- Saiba irmã – continuava
Alfred - Julieta quer que quando eu entrar na faculdade e concluir o curso de
Jornalismo, eu deva tentar carreira ou em Viena ou Alemanha como pianista.
- Que bom, caro irmão!
- Mas no momento eu não me
agrado tanto da ideia. Primeiro, eu tenho que resolver minha situação com a
Pérola, para depois pensar em despontar de uma vez minha carreira como pianista
pelo mundo afora.
- Sim, e eu te ajudarei no
que for preciso!
Margaret confortava o irmão.
Abraçava-o afetuosamente, como muitas vezes ele fizera com ela, confortando-a
em seus momentos de infelicidade passageira. Entretanto, a de Alfred não
parecia, até o momento, ser tão passageira assim.
Na sala, tendo Cyndi que agora
estava transformada, tanto fisicamente (pois a parte castanha do cabelo estava
pintada de preto, e a outra parte ainda ruiva, mantinha o formato original
desde quando a apresentei a vocês) e psicologicamente amadurecida com os baques
da vida, havia chegado a um ponto final daquela discussão. Com a aprovação de
Cyndi, Leocádia decidiu que o melhor caminho até o momento, é Giuseppe passar um
tempo na Itália, até a dita poeira do delito do adultério se abaixar de uma vez
por todas. Mesmo que Luíza não fosse tão santa, e também não fosse tão vítima
assim, Leocádia a despede pagando o seu adiantamento.
(Carlos André)
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