sábado, 11 de novembro de 2017

Novela - O PIANISTA

Capítulo XXVI – Um simples gesto vale mais do que mil palavras;

 Num certo sábado, três dias após o concerto no Palácio das Artes; o sol indo embora e tangendo os belos horizontes, daqueles montes e prados, os “sobreviventes” Giuseppe e Madalena, chegam ao prédio. O porteiro pede que subam para o apartamento. Todos já estavam preocupados. Madalena toca a campainha e Luíza vem atender.

- Até que enfim vocês chegaram!
- Tudo bem Luíza? Há quanto tempo!
- Tudo, senhor Giuseppe! São exatamente quatro anos que o senhor não vem aqui nos visitar!
- E como de costume, você não perdeu a mania de me chamar de senhor! Só aceitarei quando eu tiver cabelos brancos naturais – Giuseppe sorria o mesmo riso de quatro anos atrás.
- Então, você é a empregada daqui? – Dispara Madalena.
- Sim, senhora!
- Tão jovem e bonita!
- Obrigada! Trabalho na parte da manhã, e a noite, faço faculdade. Não fiquem aí parados. Entrem e se acomodem! Vou chamar a senhora Leocádia e o senhor Armênio.

Leocádia e Armênio estão no quarto, do segundo andar do apartamento. Luíza ao subir as escadas para avisar-lhes, olha de soslaio para Giuseppe: um olhar matreiro que sensualiza, sem que Madalena percebesse, a jogada conquistadora de Luíza.
O quarto da Margaret fica ao lado do quarto de Alfred. Margaret estava dormindo, e Alfred também. De novo, como se a cena repetisse, Cyndi acabou pegando no sono junto de Alfred. Este aí, não havia ainda saído, daquela fase de compreender as pretensões de Camila com o futuro da Pérola.
Toca o telefone no quarto de Alfred. Cyndi abre os olhos, e sem querer acordar seu primo, como se o toque do telefone não bastasse para acordá-lo, tira cuidadosamente a mão direita de Alfred dos seus ombros; embuça-lo, pois aquela tarde estava muito fria em Belo Horizonte. Cyndi atende ao telefone:

- Alô?! Quem fala?
- Sou eu Cyndi! – Do outro lado, surge uma voz ansiosa e urgente.
- Quem?! – Insiste Cyndi ao perguntar.
- Você não está reconhecendo minha voz?
- Roberto!!!
- Até que enfim! – Ironiza.
- Mas porque você está com uma voz diferente?
- Precisamos conversar Cyndi! Meus pais vão trancar minha bolsa de estudos, se eu não apresentar você para eles.
- E eu com isso?! Eu lhe disse há muito tempo que eu não quero um relacionamento com pressão vindo de seus pais.
- O quê?! Você não se preocupa se eu perder esta bolsa de estudos? Cyndi... eu te amo!
- Eu já ouvi isso tantas vezes, que eu até perco a conta! Só amor?! Somente isso não me sustenta. Preciso que você seja verdadeiro com o que você diz e promete.
- Cyndi, eu faço tudo por você, e você não me retribui!
- Deixe de ser egoísta, Roberto! O que você quer dizer com “eu faço tudo por você”; lembre que aquele dia que eu lhe chamei para irmos ao teatro, você virou pra mim e disse: “Desculpe amorzinho, mas eu não posso hoje. Tenho uma festinha para ir na casa de um amigo”; você pensa que eu iria acreditar nisso? Não venha contar mentiras para mim! Logo eu, que descubro mentiras tão facilmente.
- Mas eu não estava mentindo! Você podia muito bem ter ido lá, e verificar com seus próprios olhos, que não havia mulher alguma naquela república. Era só uma república de homens!
- Não me venha enrolar, Roberto! Eu te dei tanto tempo... esperei até você arrumar um emprego fixo e mudar da casa de seus pais, para que assim, pudéssemos começar um relacionamento sério e firme. Mas você dizia: “Não, amor, assim não! Não posso largar meus pais agora, sem ao menos em me formar em direito, estando lá em casa, e eles vendo o meu esforço nos estudos!” Já chega! Vamos dar um tempo. Será melhor para mim e você. Eu até iria apresentar você para meu pai, mas agora Roberto, você pisou na bola comigo.
- Eu não fiz nada. É você que não me entende!
- Entende?! Não Roberto, sou eu agora, que não quero mais te entender – Depois desta última frase, Cyndi desliga o telefone.
- Amor, não faça isso... não desligue... Cyndi... Cyndi... alô...alô Cyndi! – Roberto se desespera do outro lado.

Alfred acorda. Na verdade, Alfred escutou toda a conversa, mas não diz nada para Cyndi, somente a abraça tão calorosamente.

- Oi amor, você acordou! – Cyndi exclama, beija a testa de Alfred, afaga seus cabelos retribuindo o abraço.
- Eu não quero mais me ludibriar, Cyndi! E também não quero mais que você sofra com isso!
- Oh, meu querido! Sinto-me agora feliz, e livre! Livre para sonhar. Não se preocupe!
- Que bom... querida prima!


(Carlos André)

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