Capítulo
XXVI – Um simples gesto vale mais do que mil palavras;
Num certo sábado, três dias após o concerto no
Palácio das Artes; o sol indo embora e tangendo os belos horizontes, daqueles
montes e prados, os “sobreviventes” Giuseppe e Madalena, chegam ao prédio. O
porteiro pede que subam para o apartamento. Todos já estavam preocupados. Madalena
toca a campainha e Luíza vem atender.
- Até que enfim vocês chegaram!
- Tudo bem Luíza? Há quanto
tempo!
- Tudo, senhor Giuseppe! São
exatamente quatro anos que o senhor não vem aqui nos visitar!
- E como de costume, você
não perdeu a mania de me chamar de senhor! Só aceitarei quando eu tiver cabelos
brancos naturais – Giuseppe sorria o mesmo riso de quatro anos atrás.
- Então, você é a empregada
daqui? – Dispara Madalena.
- Sim, senhora!
- Tão jovem e bonita!
- Obrigada! Trabalho na
parte da manhã, e a noite, faço faculdade. Não fiquem aí parados. Entrem e se
acomodem! Vou chamar a senhora Leocádia e o senhor Armênio.
Leocádia e Armênio estão no quarto,
do segundo andar do apartamento. Luíza ao subir as escadas para avisar-lhes,
olha de soslaio para Giuseppe: um olhar matreiro que sensualiza, sem que
Madalena percebesse, a jogada conquistadora de Luíza.
O quarto da Margaret fica ao
lado do quarto de Alfred. Margaret estava dormindo, e Alfred também. De novo,
como se a cena repetisse, Cyndi acabou pegando no sono junto de Alfred. Este
aí, não havia ainda saído, daquela fase de compreender as pretensões de Camila
com o futuro da Pérola.
Toca o telefone no quarto de
Alfred. Cyndi abre os olhos, e sem querer acordar seu primo, como se o toque do
telefone não bastasse para acordá-lo, tira cuidadosamente a mão direita de Alfred
dos seus ombros; embuça-lo, pois aquela tarde estava muito fria em Belo
Horizonte. Cyndi atende ao telefone:
- Alô?! Quem fala?
- Sou eu Cyndi! – Do outro
lado, surge uma voz ansiosa e urgente.
- Quem?! – Insiste Cyndi ao
perguntar.
- Você não está reconhecendo
minha voz?
- Roberto!!!
- Até que enfim! – Ironiza.
- Mas porque você está com
uma voz diferente?
- Precisamos conversar
Cyndi! Meus pais vão trancar minha bolsa de estudos, se eu não apresentar você
para eles.
- E eu com isso?! Eu lhe
disse há muito tempo que eu não quero um relacionamento com pressão vindo de
seus pais.
- O quê?! Você não se
preocupa se eu perder esta bolsa de estudos? Cyndi... eu te amo!
- Eu já ouvi isso tantas
vezes, que eu até perco a conta! Só amor?! Somente isso não me sustenta.
Preciso que você seja verdadeiro com o que você diz e promete.
- Cyndi, eu faço tudo por
você, e você não me retribui!
- Deixe de ser egoísta,
Roberto! O que você quer dizer com “eu faço tudo por você”; lembre que aquele
dia que eu lhe chamei para irmos ao teatro, você virou pra mim e disse: “Desculpe
amorzinho, mas eu não posso hoje. Tenho uma festinha para ir na casa de um
amigo”; você pensa que eu iria acreditar nisso? Não venha contar mentiras para
mim! Logo eu, que descubro mentiras tão facilmente.
- Mas eu não estava
mentindo! Você podia muito bem ter ido lá, e verificar com seus próprios olhos,
que não havia mulher alguma naquela república. Era só uma república de homens!
- Não me venha enrolar, Roberto!
Eu te dei tanto tempo... esperei até você arrumar um emprego fixo e mudar da
casa de seus pais, para que assim, pudéssemos começar um relacionamento sério e
firme. Mas você dizia: “Não, amor, assim não! Não posso largar meus pais agora,
sem ao menos em me formar em direito, estando lá em casa, e eles vendo o meu
esforço nos estudos!” Já chega! Vamos dar um tempo. Será melhor para mim e
você. Eu até iria apresentar você para meu pai, mas agora Roberto, você pisou
na bola comigo.
- Eu não fiz nada. É você
que não me entende!
- Entende?! Não Roberto, sou
eu agora, que não quero mais te entender – Depois desta última frase, Cyndi
desliga o telefone.
- Amor, não faça isso... não
desligue... Cyndi... Cyndi... alô...alô Cyndi! – Roberto se desespera do outro
lado.
Alfred acorda. Na verdade,
Alfred escutou toda a conversa, mas não diz nada para Cyndi, somente a abraça
tão calorosamente.
- Oi amor, você acordou! –
Cyndi exclama, beija a testa de Alfred, afaga seus cabelos retribuindo o
abraço.
- Eu não quero mais me
ludibriar, Cyndi! E também não quero mais que você sofra com isso!
- Oh, meu querido! Sinto-me
agora feliz, e livre! Livre para sonhar. Não se preocupe!
- Que bom... querida prima!
(Carlos André)
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